A Universidade Federal do Paraná tem muitas áreas de excelência espalhadas por seus setores e campi. Entre elas estão laboratórios e grupos de pesquisa liderados por pesquisadores que alcançaram o topo da carreira no Brasil. São pesquisadores que, segundo os critérios estabelecidos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), se destacam entre seus pares, alcançando o nível 1A, o mais alto na modalidade de bolsas Produtividade em Pesquisa. O portal da UFPR está publicando uma série de reportagens sobre os pesquisadores 1A da universidade e o trabalho científico que desenvolvem.
O professor e pesquisador Carlos Ricardo Soccol considera a Engenharia de Bioprocessos e a Biotecnologia industrial áreas estratégicas para o desenvolvimento econômico e social do País, e dedica o seu trabalho para o fortalecimento desse setor no Brasil. A produção acadêmica do professor é vasta: 1.148 publicações, entre artigos científicos publicados em revistas de alto fator de impacto, livros e capítulos de livros publicados em editoras nacionais e internacionais, trabalhos publicados em anais de congressos, patentes depositadas, além da formação de engenheiros, mestres, doutores e pós-doutores. Para Soccol, ainda mais importante do que a produção do conhecimento é que ela seja convertida em benefícios para a sociedade.
“A biotecnologia é uma das áreas mais promissoras da atualidade em termos econômicos. Como o Brasil possui uma biodiversidade vastíssima e recursos naturais passíveis de serem biotransformados, originando novos produtos, nas mais variadas cadeias produtivas, se faz necessário potencializar o desenvolvimento dessa área no País, como forma de gerar emprego e renda para a população”, afirma.
Em 1988, o CNPq e o Ministério de Ciência e Tecnologia lançaram um programa para a formação de engenheiros em áreas estratégicas para o Brasil, incluindo a biotecnologia. Soccol foi contemplado com uma bolsa para fazer o doutorado em Engenharia Biológica / Engenharia Enzimática, Microbiologia e Bioconversão na Université de Technologie de Compiègne e no Instituto ORSTOM/IRD -França.
O professor diz que lá entendeu a relevância da Engenharia de Bioprocessos para o desenvolvimento do país. Ao voltar ao Brasil, criou o primeiro curso no país de graduação em Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, na UFPR. “Hoje eu vejo com muita felicidade que um número expressivo de universidades públicas no Brasil ofertam esse curso em níveis de graduação e pós-graduação, que é de grande relevância para a desenvolvimento social e econômico do país.
O professor também é mentor do Programa de Pós-Graduação em Processos Biotecnológicos, avaliado com conceito 6 pela Capes, pelo seu nível de excelência e internacionalização. Apenas três programas no Comitê de Biotecnologia da CAPES possuem conceito 6 no Brasil, e nenhum tem conceito 7, a nota máxima.
Para o professor, uma das características mais marcantes da universidade pública é a liberdade para o exercício da criatividade e inovação que os pesquisadores têm para implementar suas linhas de pesquisa, montar grupos, buscar recursos e fazer projetos. “Isso não se vê, de maneira geral, em instituições que não tenham interesse público”, opina. “Foi mais ou menos o que fiz na universidade nesses mais de 30 anos. Procurei agregar colegas, doutores, professores recém-contratados e que tinham muita vontade de realizar um trabalho profícuo em prol da sociedade nessa área do conhecimento na qual atuamos”, conta o professor, que sempre buscou recursos em editais de órgãos públicos de fomento a pesquisa no Brasil e no exterior, além de interação com empresas do setor produtivo.
Esse esforço, realizado em conjunto com outros professores e pesquisadores, resultou em muitos benefícios para a UFPR para os cursos de graduação e pós-graduação da área, como por exemplo a inauguração, em dezembro de 2015, do prédio e a instalação do conjunto de laboratórios de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, com recursos da FINEP, Governo do Estado do Paraná, UFPR e da iniciativa privada.
Na opinião do Prof. Soccol, o ambiente acadêmico não deve se fechar, mas incentivar parcerias com o setor produtivo como forma de melhor preparar esses profissionais para atender às necessidades do mercado e expectativas da sociedade. A relação do curso com empresas tem possibilitado que nossos alunos possam realizar estágios em diferentes áreas da biotecnologia, fator esse de extrema relevância para sua formação profissional. “Nós formamos engenheiros, e engenheiros têm que ter uma boa experiência com o setor produtivo antes de concluir sua graduação. Se nossas escolas não mantem nenhuma relação com empresas, como vamos encontrar bons estágios e bons empregos para os nossos engenheiros? Essa foi sempre uma de nossas maiores preocupações na UFPR”.
É nesses laboratórios com a participação de graduandos e pós-graduandos que são desenvolvidos projetos de pesquisas voltados para atender possíveis demandas das indústrias de alimentos, farmacêutica, veterinária, agricultura, ambiental, bioenergia, entre outras. “Nós temos projetos de pesquisas em desenvolvimento em todos os segmentos da biotecnologia. Alguns com tecnologias de processos e produtos mais avançados, que têm sido licenciados ou estão em vias de serem licenciados ao setor produtivo por meio de negociações conduzidas pela Agência de Inovação da UFPR.
O professor Soccol, em parceria com colegas professores e ex-orientados, já depositou 80 patentes de produtos e processos de titularidade da UFPR. Números que contribuem para que a UFPR detenha a quarta posição entre todas as instituições brasileiras que mais depositaram patentes no país, segundo ranking recente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). “Essas patentes se constituem em um grande ativo público da Universidade”. Entendemos que proteger esses conhecimentos gerados na Universidade na forma de patentes, é de certa forma devolver à sociedade parte dos recursos públicos aqui investidos, os quais devem ser transformados em novas fábricas, postos de trabalhos e impostos que irão contribuir para melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro.
A área de patentes na UFPR evoluiu muito desde 1992, quando Soccol voltou à universidade depois de seu doutorado. Ele conta que na Universidade e no Instituto de Pesquisa onde estudou se dava mais importância a um novo produto desenvolvido e protegido por patente do que para um número grande de artigos publicados em boas revistas. “Quando retornei à UFPR em 1992, essa prática não existia aqui”, diz Soccol, e lembra que para as suas primeiras patentes, ele mesmo escrevia, depositava no INPI e pagava as taxas do próprio bolso, em nome da universidade.
“Com muita alegria a Agência de Inovação UFPR se consolidou há alguns anos e hoje nos apoia enormemente, e as pessoas que estão à frente da Agência são excelentes parceiros nossos, dos pesquisadores, e nos estimulam muito a proteger esse conhecimento para o povo brasileiro, assim como licenciar essas tecnologias ao setor produtivo”, afirma.
A interação entre academia e setor produtivo ainda pode se tornar mais frutífera no Brasil se superados alguns desafios internos das instituições públicas e privadas, acredita Soccol. Para ele, essa relação é importante para gerar maior soberania tecnológica no país. “Em vez de só exportarmos matéria-prima e produtos primários, agregar conhecimento é multiplicar o valor dessas matérias-primas por dez, cem, mil ou até mais. Nós, cientistas, precisamos dessa interação com o setor produtivo, mas também precisamos que haja uma maior desburocratização desses processos”.
Por meio de leis de incentivo à inovação, empresas podem usar parte de seus impostos para investir em projetos de desenvolvimento científico e tecnológico em parceria com universidades. “Infelizmente ainda não são muitos os empresários com essa visão no país”, lamenta o professor. Para ele, ainda são poucas as empresas que buscam a universidade para desenvolver novos produtos em parceria. Nesse tipo de associação todos ganham, alunos, professores, universidades, empresas e, sobretudo, o país.
Carlos Soccol é graduado em Engenharia Química e mestre em Tecnologia de Alimentos pela UFPR, e Doutor em Engenharia Biológica /Engenharia Enzimática, Microbiologia e Bioconversão, pela Université de Technologie de Compiègne e Institut ORSTOM/IRD (França). O pesquisador também é Doutor Honoris Causa da Université Blaise Pascal-França, Prof. HDR da Univesité Aix- Marseille-França e foi eleito membro Titular da Academia Brasileira de Ciências na área das Engenharias em 2013.
Sua produção científica já foi reconhecida com diversos prêmios e títulos, entre eles: Best Scientific Achievement of the Year 2001 by Ministry of Sugar of Cuba (MINAZ); Outstanding Scientist Award- 5th International Conference on Industrial Bioprocesses, Taipei-Taiwan, em 2012; Prêmio Henri Nestlé em Ciência e Tecnologia de Alimentos, em 2014 e Medalha Polytech pela Reseau Écoles d’Ingénieurs de France, em 2015.
Por Helen Mendes
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