‘No presídio desativado do Ahú, por exemplo, encontramos documentos enfiados num buraco, com goteiras, uma bagunça completa’, disse Bodê, durante debate promovido na tarde de segunda-feira (1º/6) . ‘Iam queimar o arquivo, que estava lá jogado, abandonado.’
Coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da UFPR, Bodê revela que, após ser questionado se ‘não queria levar isso [os papéis] pra ele’, trouxe os documentos à universidade. ‘Mas vamos transferi-los para o Arquivo Público, onde é o seu lugar.’
O professor observou que a história ocupa um papel importante na construção do conhecimento sociológico. ‘Essas áreas do conhecimento deveriam estar mais próximas.’
Realizado no Anfiteatro 100 da Reitoria da UFPR, o debate abriu oficialmente a Semana Acadêmica de História, que segue até sexta-feira (5/6) e aborda a questão da violência. Haverá debates, discussões de filmes e apresentação de trabalhos relacionados ao tema.
Pedro Bodê de Moraes também afirmou que as bases de dados sobre homicídios no Brasil são ‘imprecisas, fraudadas, desvirtuadas’. ‘Como a segurança pública é sempre o calcanhar de Aquiles, a Polícia Militar, a Polícia Civil, o SUS, cada órgão tem a sua base de dados, e o governo usa qual lhe convém.’
O pesquisador defendeu a utilização do termo violência ‘entre aspas’, por se tratar, segundo ele, de uma palavra ‘abstrata e midiática’. ‘A própria palavra violência diz muito mais respeito ao senso comum de todas as práticas sociais negativas ou negativadas’, explica Bodê. ‘Para evitar a abstração, é preciso delimitar sobre o que se fala exatamente.’
Dops e imigração
Também participaram do debate a professora Marion Brepohl, do Departamento de História da UFPR, e Elena Camargo Shizuno, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História da universidade.
Shizuno apresentou o tema de sua tese de dissertação, defendida em 2001, que aborda a repressão praticada na década de 1940 pela Delegacia de Ordem Política e Social (Dops) contra os imigrantes japoneses.
Alguns anos antes, em 1934, a Constituição brasileira havia estabelecido cotas de imigrantes. O texto constitucional chegava a tratá-los como ‘alienígenas’.
Quando começou a Segunda Guerra Mundial, houve perseguições e prisões, além de medidas como a proibição de falar línguas como o japonês, o alemão e o polonês nas ruas. ‘Tudo era motivo para suspeitas e acusações de ameaça à segurança nacional’, relata a pesquisadora. ‘A documentação da Dops é grande e pouco estudada no Paraná. É um material fantástico.’
Programação dos próximos dias da Semana Acadêmica de História
Terça-feira (2/6)
Atividade: Apresentação de Trabalhos.
Hora: 13h30
Local: Reitoria da UFPR, Anfiteatro 100 (1º andar).
Atividade: Mesa – Violência e Gênero
Hora: 18h30
Local: Reitoria da UFPR, Anfiteatro 100 (1º andar).
Palestrantes confirmadas: Ana Paula Vosne Martins (UFPR), Rachel Soihet (UFF), Fátima Cecchetto (Instituto Oswaldo Cruz-RJ)
Quarta-feira (3/6)
Atividade: Mesa – Violência de Estado
Hora: 13h30
Local: Reitoria da UFPR, Anfiteatro 100 (1º andar).
Palestrantes confirmados: Marion Brepohl Magalhães (UFPR), Gizlene Neder (UFF), Ruth Maria Chittó Gauer (PUC-RS)
Atividade: Discussão do filme ‘Batismo de Sangue’.
Hora: 18h30
Local: Reitoria da UFPR, Anfiteatro 100 (1º andar
Debatedor: Frei Oswaldo Rezende
Quinta-feira (4/6)
Atividade: Apresentação de Trabalhos.
Hora: 13h30
Local: Reitoria da UFPR, Anfiteatro 100 (1º andar).
Atividade: Mesa – Violência e Etnicidade.
Hora: 18h30
Local: Reitoria da UFPR, Anfiteatro 100 (1º andar).
Palestrantes confirmados: Carlos Alberto Medeiros Lima (UFPR), Horácio Gutiérrez (USP)
Palestrantes convidados: Paulo Vinicius Baptista
Sexta-feira (05/06)
Atividade: Mesa – Violência e Sociedade
Hora: 13h30
Local: Reitoria da UFPR, Anfiteatro 100 (1º andar).
Palestrantes confirmados: Adriana Facina (UFF), Rafael Sêga (UTFPR)
Palestrantes convidados: José Tavares dos Santos
Atividade: Discussão do filme ‘Clube da Luta’.
Hora: 18h
Local: Reitoria da UFPR, Anfiteatro 100 (1º andar).
Debatedores: Fernando Bottom e Daniel
Foto(s) relacionada(s):
O professor Pedro Bodê de Moraes, durante debate na Semana Acadêmica de História
Foto: Izabel Liviski
Fonte: Fernando César Oliveira