Nesta quinta- feira (11/7), o professor Fabio Parenti, ofertou no Museu Paranaense sobre a recente descoberta que pode reescrever a maneira de como aconteceu a evolução humana. A pesquisa, cujos resultados foram publicados na revista científica Quarternary Science Reviews, encontrou ferramentas de pedra lascada durante as escavações num sítio arqueológico localizado no vale do rio Zarqa, na Jordânia.
A datação das peças revelou-se muito antiga, entre 1,9 e 2,4 milhões de anos, o que indica que teriam sido fabricadas pelo Homo habilis, o que modificaria o que se tem estabelecido até agora de que a espécie nunca chegou a sair da África. Os modelos atuais indicam que a primeira espécie a sair da África foi o Homo erectus, no novo modelo ele teria evoluído de grupos de Homo habilis fora da África e depois retornado para aquele continente.
Na palestra o professor falou de como aconteceu a descoberta e também de quais são as perspectivas para o futuro.
O sítio fica localizado em uma zona fronteiriça ao território ocupado por Israel e a história da descoberta começa com a Guerra dos 6 dias, quando devido à vitória israelense e ocupação da Cisjordânia um fluxo enorme de refugiados se deslocaram para dentro da Jordânia na região onde está localizada as escavações. As Nações Unidas, para oferecer uma situação mínima para os assentados fizeram adequações no terreno usando retroescavadeiras o que permitiu que membros de uma equipe francesa de arqueólogos percebessem que a formação geológica poderia ser um sítio arqueológico.
A equipe francesa foi a primeira a explorar o local, achando as primeiras peças na região e a definindo como um sítio importante. Posteriormente uma equipe italiana, a qual Parenti fez parte, ainda como arqueólogo independente, retomou os trabalhos que haviam sido cessados. Esta nova missão continuou achando peças na região mas a crise de 2008 levou ao fim do financiamento da pesquisa.
O retorno do professor às escavações foi possível depois que a atual equipe de pesquisadores conseguiu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), projeto liderado por Walter Neves, famoso pelos estudos em torno de ‘Luzia’, o mais antigo fóssil humano encontrado na América do Sul, com datação entre 12.500 e 13.000 anos.
Datação
Parenti explicou que as novas peças encontradas pela equipe se tornaram tão importantes devido à definição do seu tempo. A datação foi confirmada por três técnicas diferentes.
O professor explicou que a camada onde se encontrou os objetos inicia acima de uma camada basáltica e vai até o início de uma camada mais superficial, que é de terreno revirado por ações recentes, tal camada foi formada durante séculos pela deposição de material devido à ação de escoamento de rios da região, as suas características garantem que não foi revirada, quer dizer os materiais foram se depositando ao longo do tempo e nada interferiu na sua formação.
Assim é possível saber a data de início da deposição acima da camada basáltica até o seu topo. Este intervalo foi definido entre 1,9 e 2,4 milhões de anos. O que define a idade das peças.
Outra técnica utilizada para definir a idade das peças foi o estudo de minerais como o urânio que sofrem decaimento radioativo ao longo do tempo e podem ser utilizados para calcular de minerais. Um laboratório alemão analisou as peças e os resultados corresponderam a mesma faixa de anos das outras técnicas.
Peças
As peças encontradas são todas ferramentas de pedra lascada, da chamada “indústria lítica”, Parenti é especialista em analisar as formas com que as espécies de hominídeos lascavam estas pedras, deixando marcas que indicam sua origem e uso.
O pesquisador explica que estes grupos utilizavam estas pedras para cortar carcaças de animais que encontravam, já que tinham um comportamento carniceiro, não eram caçadores.
Confira também a entrevista com Parenti para a revista Ciência UFPR.
