No segundo dia de mobilizações contra o corte de mais de R$ 48 milhões da verba da instituição, anunciado pelo Governo Federal, e da suspensão de 127 bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), estudantes foram às ruas para apresentar o que é produzido dentro da Universidade. Diversos grupos se espalharam pela capital paranaense para divulgar as pesquisas, projetos de extensão e explicar os impactos diretos disso para a sociedade.
O aposentado Hamilton Santos passava pela Praça Santos Andrade, no centro de Curitiba, e parou para ouvir o relato de um estudante sobre a relevância da pesquisa desenvolvida na área de Farmacologia. “Semana passada eu falei para um rapaz que as pessoas batalham dentro da universidade e estudam muito, mas tem gente que não conhece e não acredita. Por isso é muito bom que eles [estudantes] expliquem para o povo”, afirmou Hamilton.
Além das ações em frente ao Prédio Histórico da instituição, os estudantes se mobilizaram na Rua XV de Novembro, Terminal Guadalupe, linha de ônibus Santa Cândida/Capão Raso e Praça Rui Barbosa. No período da tarde, os estudantes também estiveram em bairros, conversando com a população.
O representante discente no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Rennan Gardoni, conta que mais de 50 alunos estão envolvidos nas ações. “Infelizmente há muita informação inverídica sendo divulgada sobre a universidade. Em contato direto com a população, nós estudantes podemos mostrar o que realmente fazemos na universidade, que é a produção de ensino, pesquisa e extensão, de grande relevância para o estado e para o País”, diz.
A mestranda Renata da Silva, do programa de Pós-Graduação em Microbiologia, participa de pesquisas de novos antibióticos para bactérias resistentes, que podem resultar na produção de um novo medicamento. “Muita gente recebe notícias falsas e não sabe o que acontece aqui dentro, nossas pesquisas refletem muito na sociedade. É importante mostrar o que fazemos e o que os cortes podem ocasionar. Estou aqui para agregar nessa luta a favor da educação”.
O estudante de Ciência da Computação Ovidio José da S. Júnior apresentou os projetos que desenvolve no Programa de Educação Tutorial (PET-Computação). “Foram dois anos de pesquisa para a criação de um jogo de apoio para o tratamento de crianças com autismo, de forma lúdica”, conta. “Nessa mobilização, acho assustador você precisar explicar para algumas pessoas, em pleno século XXI, que a educação é importante, mas também considero bonito porque assim a universidade mostra que além de formar profissionais, trabalha com pesquisas e cria soluções para problemas”.
Os estudantes também abordaram a população nos tubos de transporte coletivo e dentro dos ônibus. “No geral, quando eu pergunto, as pessoas ouviram falar sobre o assunto no WhatsApp, mas não há uma posição clara. Estamos mostrando o que faz uma universidade pública e a maioria mostra uma boa recepção ao saber o que acontece de fato lá dentro”, explica o mestrando de Farmacologia Thiago Ribeiro.
Iniciativas
Diversos grupos do Programa de Educação Tutorial (PET), Programas de Pós-Graduação, projetos de extensão, entre outros, participaram das mobilizações durante todo o dia.
Pela manhã, o Programa Política Migratória e Universidade Brasileira (PMUB) promoveu uma aula pública sobre direitos dos migrantes e cidadania sem nação. O PET Psicologia levou a exposição “Mulheres na Ciência” para a praça e o programa de extensão “Trânsito e Cidadania” apresentou cenários utilizados em escolas públicas e privadas para a conscientização sobre a segurança no trânsito.
“A iniciativa ‘Trânsito e Cidadania’ existe há dez anos e já atendemos milhares de crianças. Estamos trabalhando para a comunidade e muitas pessoas não têm ciência de que as atividades são baseadas em estudos científicos desenvolvidos pela UFPR. Trazer isso para a rua dá oportunidade de mostrar o que a universidade promove”, destaca a estudante Eduarda Lehmann.
“Temos aqui alunos de Química, Física, Engenharia Elétrica, Engenharia Civil, História, Psicologia, Direito, Biologia, Geologia, Filosofia, Ciências Agrárias, entre outros. Queremos mostrar como temos uma produção diversificada”, conclui o acadêmico Rennan Gardoni.
Interior do estado
Em Pontal do Paraná, os estudantes participaram de uma passeata pela manhã. Às 17 horas, os estudantes voltaram a se reunir para a segunda passeata, que partiu da Unidade Pontal do Sul da UFPR e seguiu até a Câmara de Vereadores.
Cartazes que mostram as pesquisas desenvolvidas e o impacto da Universidade na região foram mostrados nas redondezas do Campus Avançado de Jandaia do Sul. As atividades também foram realizadas durante todo o dia. Os estudantes ainda convidaram professores, técnicos, alunos e demais pessoas da comunidade de Jandaia do Sul para um ato contra o corte da verba da UFPR. O encontro está marcado para esta quarta-feira (15), às 9 horas, em frente ao Campus.
Em Palotina, uma Assembleia geral ocorreu às 17h30, em frente ao bloco I do Setor. Nesta quarta-feira (15), os estudantes organizarão um ato na praça central, às 16h30, com o apoio do DCE, contra os cortes na educação.
Semana de mobilizações
A semana de atividades contra os cortes de recursos da UFPR continua, na quarta-feira (15), com uma mobilização na Praça Santos Andrade a partir das 8h30. Haverá participação de entidades representativas, movimentos sociais e da comunidade acadêmica.
A programação de quinta-feira (16) leva grupos artísticos da UFPR para as ruas, com apresentações da Orquestra da Universidade, Grupo de MPB, Grupo de Choro, cantos de música antiga, Téssera Companhia de Dança, Cia de Teatro e Coro. O movimento “UFPR + Cultura na rua” também abrange aulas e intervenções públicas e a exposição “Arte e Pesquisa” no Museu de Arte da UFPR.
A semana termina com um grande ato pela educação na escadaria no Teatro da Reitoria, na sexta-feira (17), entre 11 e 13 horas.