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UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARANÁ

Discurso de despedida do reitor Carlos Moreira Júnior

Todos sabem que fui convidado pelo Governador do Estado, Roberto Requião, para ser o candidato do PMDB à prefeitura de Curitiba. Foi com orgulho e ao mesmo tempo preocupação que recebi tal indicação. Orgulho pelo reconhecimento de meu trabalho frente à Universidade e preocupação com meus colegas de administração e com os destinos da instituição que tanto prezo.

Durante quase dois mandatos, pouco mais de seis anos, como reitor da UFPR, cumpri minha função com zelo e dedicação. O carinho e apreço que tenho pela Universidade e pelos membros de sua comunidade são imensos. Minha dívida com a instituição é impagável. Nela me formei médico, exerço a função de professor e me realizei como cidadão. Como um bom soldado e servidor da UFPR, estarei sempre pronto a trabalhar e contribuir para seu desenvolvimento.

Foi assim que procurei servir à Universidade. Luta, trabalho e determinação junto com meus colegas de administração e em parceria com a comunidade universitária foram capazes de conduzir a UFPR a um lugar de destaque ainda maior no cenário das instituições federais de ensino superior do país.

Em meu discurso de posse para o primeiro mandato, em 2002, afirmei que teríamos como princípio inegociável a universidade pública, gratuita, com mais qualidade e mais compromisso social, e que para selar o compromisso entre universidade e sociedade seria preciso: equidade no ingresso; excelência na graduação; formação da cidadania; e organizar a capacidade da instituição em atender a comunidade. Após seis anos como reitor, tenho convicção de que, tenazmente, perseguimos todas estas metas.

Tive o privilégio de implantar um dos maiores processos de democratização de acesso ao ensino superior já ocorridos no país. A Universidade Pública, às vezes tão distante para alguns, deixou de ser apenas um sonho e passou a ser uma possibilidade concreta. Ações como o Processo de Ocupação de Vagas Remanescentes (PROVAR), a instituição das políticas afirmativas para estudantes da escola pública e para negros, a criação do campus da UFPR-Litoral e a expansão da Universidade com a adesão ao programa REUNI são apenas as iniciativas mais visíveis desse processo.

A aprovação por este Conselho, alguns minutos atrás, da proposta de vagas de expansão para os deficientes físicos, completa minha tarefa.

Com referência ao PROVAR, vale registrar que o programa já graduou mais de 500 estudantes e permitiu o ingresso na UFPR de mais quatro mil, a maioria com dificuldades para pagar mensalidades nas instituições privadas. A ocupação das vagas ociosas foi um programa que recebeu elogios do Presidente da República e acabou sendo adotado pelo MEC para a implantação do REUNI. Acima de tudo, o PROVAR é uma conquista da sociedade paranaense, fazendo com que as transferências para a UFPR sejam através de concurso público.

As políticas afirmativas, agora em seu quarto ano de implantação, permitiram o acesso à Universidade de centenas de estudantes, oriundos da escola pública e estudantes negros, que antes estavam praticamente excluídos do sistema de educação superior. Hoje, é com satisfação que vemos os estudantes da UFPR refletirem a sociedade brasileira, com gente de todas as raças e classes sociais. Ao contrário do que imaginavam alguns, os cotistas têm desempenho escolar tão bom quanto qualquer outro aluno e têm metade da evasão dos não-cotistas. Este último dado mostra quão valorizada é a vaga pelo estudante cotista.

A criação do campus UFPR-Litoral levou ensino superior gratuito e de qualidade a uma região do Estado carente dessa modalidade de ensino. Já em seu quarto vestibular, o Setor Litoral da UFPR se consolida como um campus com atividade didática inovadora e uma universidade com profundo vínculo com a comunidade em que atua. A parceria com o governo do Estado e com o governo municipal de Matinhos foi fundamental para o sucesso dessa empreitada. Desde já o meu mais sincero agradecimento aos heróis responsáveis pela implantação deste novo Setor da UFPR.

A expansão da Universidade pública brasileira é uma demanda absolutamente necessária. São milhares de jovens que abortam seu sonho e perdem oportunidades de ascensão social por falta de vagas nas universidades públicas. O programa REUNI, embora ainda pouco compreendido, possibilitará essa importante expansão. A luta que se travou dentro de inúmeras instituições federais, infelizmente, não observou o direito daqueles que também pagam impostos e contribuem para a sobrevivência das universidades, aliás, os que mais contribuem, e que por não poderem pagar por ensino superior ficam distantes das oportunidades. Recomendo uma visita a uma escola pública de ensino médio da periferia de Curitiba para ver com seus próprios olhos a situação daqueles jovens. Apenas uma ínfima parcela deles terá condições de freqüentar uma universidade. Agora que o MEC quer nos apoiar com recursos financeiros e condições de contratação de docentes e técnico-administrativos vejo, ainda, resistência em muitos de nossos docentes e estudantes, quase como se apropriando da instituição pública e simplesmente dizendo não àqueles que mais precisam.

Todas essas iniciativas não teriam o resultado esperado se não fossem as ações de assistência estudantil implantadas desde o primeiro dia que iniciamos o primeiro mandato como reitor da UFPR. Ao invés de procurarmos justificativas para aumentar o valor da refeição nos restaurantes universitários determinamos a manutenção do valor de R$1,30 por refeição. Melhoramos sua qualidade e construímos um novo restaurante universitário no Centro Politécnico para melhor atender aos estudantes. Não medimos esforços para a ampliação do número de bolsas estudantis e iniciamos uma nova política de moradia estudantil, com a reforma da CEUC e convênio com a CEU, que está contribuindo com a diminuição da evasão escolar. Outra medida importante foi a ampliação do acervo do sistema de bibliotecas para facilitar o empréstimo dos livros e periódicos pelos estudantes. Tudo isso culminou com a criação da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, tão necessária à categoria.

Mas não foi somente na graduação que a Universidade avançou. O sistema de pós-graduação foi ampliado com a criação de novos cursos e melhoria da qualidade de outros já existentes, mantendo a pesquisa como um dos pilares da UFPR.
O ensino técnico-profissionalizante recebeu apoio extraordinário, fazendo com que a Escola Técnica da UFPR passasse a ser referência para o Brasil nessa modalidade de ensino. Houve crescimento vertiginoso do ensino a distância que bem se aplica a alguns tipos de cursos profissionalizantes. Hoje, cerca de 20 mil alunos participam desse tipo de ensino. A criação da IFET-PR, uma terceira instituição federal de ensino no Estado, foi uma das contrapartidas do MEC em função de nosso trabalho. Meu agradecimento especial a toda comunidade da Escola Técnica que nos enche de orgulho.

Na área da Extensão e Cultura demos amplo apoio aos grupos artísticos, aumentamos as publicações da Editora e a extensão recebeu estímulo adicional. Programas de Extensão como o do Vale do Ribeira desenvolveram a cidadania em nossos alunos.

A questão da acessibilidade às pessoas com necessidades especiais está sendo enfrentada. A internacionalização da instituição caminha a passos largos e com ótimas repercussões para alunos de graduação, pós-graduação e professores.
Construções e reformas de áreas físicas foram realizadas em todos os campi. Muitas ainda estão em andamento e devem ser inauguradas em breve. A rádio e TV-UFPR é uma realidade com qualidade e que se expande ainda mais com a criação da rede-IFES de TV e rádio em todo país, iniciativa conduzida por nossa Universidade.

O campus de Palotina recebeu grande apoio com o programa REUNI e, em breve, deverá se tornar um grande Setor da UFPR. Aos heróis da resistência de Palotina, que souberam ter paciência para esperar e quando tiveram a oportunidade agiram com eficiência, o meu muito obrigado.

Os hospitais universitários caminham firmes a despeito das dificuldades. O HC foi reformado interna e externamente. Novos equipamentos foram adquiridos e, assim, os hospitais universitários continuam prestando um serviço inestimável à população. Eles continuarão a ser centros de excelência no tratamento à saúde do Paraná. À imensa comunidade que trabalha nesses hospitais, o meu agradecimento.

A Fundação da Universidade Federal do Paraná (FUNPAR), apesar das dificuldades na compreensão de suas funções por parte dos órgãos fiscalizadores, continua a ser indispensável ao bom funcionamento da instituição, especialmente dos hospitais universitários. Instalada em seu novo prédio, possibilita o avanço da pesquisa e importantes ações da universidade junto à sociedade. À toda comunidade FUNPAR, seja na administração da Fundação, seja nos hospitais universitários e em outras unidades da UFPR, o meu reconhecimento pelo brilhante trabalho.

A cultura do planejamento e o saneamento financeiro da instituição foram conquistados. O conceito da “Universidade do Paraná”, onde há uma concreta colaboração entre todas as universidades do Estado, fazendo intercâmbio de alunos e docentes, experiências científicas e administrativas, consolidou-se.

Propusemo-nos fazer muito, conseguimos realizar a maioria, infelizmente ainda faltou cumprir algumas metas, mas o que nunca faltou foi ação. Repito o que sempre digo: “É na ação que a teoria demonstra competência.” Portanto, UFPR continue de mangas arregaçadas. Isso é mais que uma frase de efeito. É a vitória de uma idéia que deveria sempre estar na cabeça de todos”.

É momento de agradecer a todos que colaboraram, estimularam e compreenderam que a boa política é a política de resultados positivos e concretos. Com isso criamos uma aura de credibilidade e legitimidade junto à nossa comunidade e à sociedade paranaense. Esse, talvez, seja o maior legado dessa gestão.

Portanto, do fundo de meu coração, o meu mais sincero agradecimento a todas as pessoas que se dedicam a essa Universidade, muitas de forma apaixonada e que merecem todo o reconhecimento. Agradeço a todos com quem trabalhei; Vice-Reitoras e Vice-Reitor, Pró-Reitoras e Pró-Reitores, Diretoras e Diretores de Setor, de Hospitais e das demais Unidades da UFPR. Enfim, a todas e a todos que fazem dessa Universidade um orgulho para os paranaenses e uma referência para os brasileiros.

Por tudo que acabei de mencionar e por meu profundo vínculo com as pessoas, não foi fácil tomar a decisão de candidatar-me à prefeitura de Curitiba. Em verdade, foi motivo de intensa reflexão individual e junto a meus familiares. Mas aqueles que me conhecem sabem que sou movido a desafios e a possibilidade de administrar a cidade de Curitiba é um desafio e tanto.

Um famoso reitor de uma universidade americana, certa vez, disse: “Envergonhe-se, se ao morrer você não tiver contribuído de forma significativa para sua comunidade”. Tenho a certeza de que todos que ajudaram a engrandecer a UFPR nestes últimos 6 anos jamais se envergonharão disto.

Termino como comecei. A seguir repito ipsis literis a parte final de meu discurso de posse em 29 de abril de 2002. “Quero que todos saibam de minha crença inabalável no futuro desta Universidade, no seu relevante papel de transformação social e em sua importância para nosso país. Em suas atividades residem a identidade cultural e intelectual do povo do Paraná, reside também a pesquisa de ponta nesse estado, a formação de nossos filhos como profissionais e como cidadãos e, certamente, o ideário de uma nação livre, soberana e solidária. Para concluir, quero dizer que há momentos na vida de um homem em que qualquer que seja a posição de seu corpo, a alma parece estar sempre de joelhos. É assim que me sinto frente à comunidade da UFPR por ter me propiciado a oportunidade de ser reitor da Universidade.”

Resta-me pedir a esse Conselho Universitário, conforme determina a lei eleitoral, minha exoneração do cargo de Reitor da Universidade Federal do Paraná, a partir do dia 03 de junho de 2008.

Finalmente, agradeço à minha família e peço a Deus que continue nos iluminando. Do Apóstolo Paulo: Lutei o bom combate. Guardei a fé.

Foto(s) relacionada(s):


Mesa na sessão do COUN
Foto: Patricia Favorito Dorfman

Fonte: ACS