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Depois das chuvas, Antonina busca refazer sua rotina

No dia 11 de março, às 17 horas, o primo de Richard Maike Carneiro avisou que uma casa tinha caído no bairro das Laranjeiras, em Antonina. As pessoas correram para tentar salvar o morador que estava soterrado. Fizeram silêncio para ouvir algum sinal de vida, mas nada. Richard quis passar a noite em casa naquele dia, mesmo que todos estivessem saindo para diminuir o risco. Ficariam apenas ele e o avô. Mas houve um novo desabamento e ele decidiu sair também. Com medo, os moradores não queriam ficar durante a noite. Depois, outro deslizamento bloqueou a entrada do bairro e não foi possível sequer procurar, de imediato, o corpo do morador soterrado.

Hoje, o bairro das Laranjeiras não existe mais. Vai ser recuperado e nunca mais poderá ser residencial. As chuvas de março encerraram a história daquela comunidade, mas em Antonina, os prejuízos foram muito mais extensos. Segundo o relatório da Defesa Civil, as chuvas afetaram, além das Laranjeiras, o centro da cidade e os bairros Jardim Maria Luíza, Ponta da Pita, Caixa D´Água, Jardim Barigui, Graciosa de Baixo, Graciosa de Cima, Portinho, Portinho de Cima, Batel e Tucunduva.

No total, foram 334 milímetros de chuvas no mês, contra a média nos anos anteriores de 153,6 milímetros. 7.500 pessoas foram afetadas pela tragédia e 3.449 ficaram desabrigadas ou desalojadas, 210 ficaram feridas, 90 enfermas e houve duas mortes. Foram destruídas 71 casas e 1.210 danificadas, além de cinco prédios públicos, 50 pontos comercias e três prédios privados ou comunitários. Houve 54 deslizamentos de terras, na maioria com danos para a população.

Recursos da união

A União aportou um total de R$9,6 milhões para ajudar a cidade. R$2,6 milhões irão para o Departamento de Estradas e Rodagem (DER), para investimentos nas estradas e pontes destruídas. Pouco menos de R$3 milhões serão executados pelo Estado do Paraná, em ações diversas. Mais de R$4 milhões ficaram a cargo da Companhia Habitacional do Paraná (Cohapar), para a construção de 88 casas populares, no bairro do Batel, para acolher as famílias que perderam suas casas. Serão sobrados de 44m², geminados, em terrenos de pelo menos 80m².

Segundo a Prefeitura Municipal de Antonina, as obras serão feitas mediante dispensa de licitação, pelo caráter emergencial, e os projetos executivos e a licença ambiental já estão certos. Até setembro, as casas devem estar prontas. Caberá à Prefeitura fazer o sistema de esgoto tratado, a um custo de R$200 mil. Os estragos causados pelas chuvas já custaram R$600 mil ao poder municipal, oriundos do Fundo de Reserva de Contingência. A Prefeitura vai ter que bancar também as vias públicas, a iluminação e o saneamento básico.

As famílias desabrigadas estão em casas de parentes ou instaladas provisoriamente em espaços como a Capemi, que tem 12 famílias abrigadas. A diarista Maria Cristina Dias Pereira espera com o marido e duas filhas a casa nova prometida pelo governo. “Esperamos poder mudar em janeiro”, diz.

Vidas mudadas

Maria Cristina comprou uma casa nova no Batel há um ano. Ela e a família perderam tudo. “Saímos apenas com as roupas do corpo e os documentos”, conta. Nos primeiros meses, ela recebeu muita ajuda. “Tudo o que a gente estava necessitando”, afirma. Ela é uma das 88 famílias cadastradas para receber um dos sobrados a serem construídos pela Cohapar.

O casal Daniel Floriano e Soeli Pereira dos Santos Castro continuam morando na casa onde moravam, no alto do bairro Laranjeiras, apesar dos riscos. Eles também estão cadastrados e esperam a casa nova, mas não quiseram ir para a Capemi. “Preciso de uma casa com pelo menos duas ou três peças, porque temos muitas miudezas”, diz Daniel. Morador há 40 anos em Laranjeiras, ele chegou a passar três noites dormindo na praça, mas começaram a roubar objetos da sua casa e o casal decidiu voltar. “Agora, estamos esperando em Deus”, suspira Soeli.

O cadastramento para as novas casas foi feito pelos assistentes sociais da prefeitura e da Cohapar que levou em conta as contribuições do IPTU. O pagamento do imposto indica que o morador era mesmo dono da casa onde residia, de forma legal e regular.

Segundo Ernesto Silva Villatore, da Defesa Civil, as pessoas não pagarão nada pelas novas casas. “Todos que perderam as casas estão cadastrados”, afirma. Ele coordenou os trabalhos de evacuação e socorro às vítimas durante as chuvas. No total, quase 200 pessoas se envolveram com os trabalhos da Defesa Civil. “A população colaborou muito. Não tivemos trabalho para tirar as pessoas das suas casas”, relata.

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Casa interditada no bairro Laranjeiras.
Foto: Ronaldo Duarte


As chuvas destruíram casas inteiras.
Foto: Ronaldo Duarte

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Fonte: Mário Messagi Júnior