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FEDERAL DO PARANÁ

COP 15 – Artigo – 17 de dezembro de 2009

Começam a surgir os primeiros fundos para o combate ao desmatamento

Ao nos aproximarmos do final da COP 15 passamos de um sentimento de esperança para apreensão em relação às metas e aos compromissos que devem ser firmados entre as partes. Ocorreu um claro esvaziamento numérico no Bella Center devido à forte restrição de entrada de ONGs e outros observadores. Nestes últimos dias, com a chegada das maiores autoridades mundiais, a entrada está restrita quase que exclusivamente aos delegados (party) e à imprensa credenciada. O cansaço é intenso e alguns negociadores têm passado noites em claro trabalhando e fazendo articulações políticas para os últimos dias.

Apesar de toda diplomacia, continua o impasse entre a China e os países do anexo 1. O principal representante chinês na Cúpula da ONU da Mudança Climática (COP15), Su Wei, em seu pronunciamento de quarta-feira, pediu aos países desenvolvidos que ‘deixem de desculpas’ e assumam ‘sua responsabilidade histórica’ como principais ‘causadores’ da mudança climática. Afirmou ainda o representante, que as metas de redução não são concretas e não passam de propostas vagas.

Por vezes temos um sentimento de impotência ao percebermos que, apesar de todo o suporte técnico e cientifico, as decisões são tomadas apenas na esfera política, considerando principalmente os interesses financeiros e econômicos. As vozes de alguns representantes de potencias mundiais têm acabado por abafar a voz das multidões que clamam pelo estabelecimento de metas claras por parte do países desenvolvidos.

Concretizando o REDD

Finalmente foram feitos os primeiros anúncios de criação de fundos oficiais para combate ao desmatamento. Um grupo de seis países, formado por Japão, Austrália, França, Noruega, Grã-Bretanha e Estados Unidos, comprometeu-se a doar US$ 3,5 bilhões para financiar projetos de curto prazo para o combate ao desmatamento. Os Estados Unidos, no entanto, ressalvaram que só efetivarão o financiamento se houver um ‘acordo político ambicioso’ em Copenhague.

Os eventos paralelos sobre o tema REDD têm sido dominados por ONGs, empresas, e consultores que apresentam numerosas e das mais diversificadas propostas para o estabelecimento de projetos REDD em áreas publicas e privadas na America Latina e África. Porém, sobre o tema ainda pairam algumas dúvidas sobre a seriedade, controle e perpetuidade destas iniciativas. Notadamente em alguns países pobres que tem infelizes experiências passadas na aplicação de recursos internacionais. Os grandes desafios em relação aos projetos de desmatamento evitado são o de fazer com que efetivamente os recursos sejam destinados as populações tradicionais que vivem nas florestas e que os projetos tenham garantida sua sustentabilidade em longo prazo.

Os anúncios de aporte de novos recursos financeiros são constantes. O governo do Japão anunciou ainda que deverá destinar cerca de US$ 15 bilhões para financiar projetos em países pobres. Os Estados Unidos anunciaram que se dispõe a financiar U$ 100 bilhões para financiar projetos ambientais

Entramos realmente em um momento da Conferência em que os arranjos políticos se intensificam. Fica claro, porém, que alguns países, capitaneados pelos EUA, passam a usar os recursos financeiros como moeda de barganha para o estabelecimento de metas e para criação de um novo protocolo. A grande preocupação que temos e de que mais uma vez os interesses econômicos e políticos sobrepujem ao interesse das gerações presentes e futuras com a redução efetiva das emissões de carbono pelos países industrializados. Não podemos correr o risco de permitir que sejam feitas barganhas sobre valores inegociáveis, como a preservação da biodiversidade e a manutenção da qualidade de vida no Planeta Terra.

Fonte: Paulo de Tarso de Lara Pires