Quem se aventura na leitura de histórias nunca está desacompanhado, ao longo da experiência o leitor cerca-se de personagens, torna-se confidente do protagonista, conhece heróis e vilões e percorre todo esse trajeto nas mais diversas companhias. Contudo, participar de um clube de pessoas que também se identificam com isso dá a oportunidade de discutir sobre o tema, abrir a mente e as ideias, compartilhar teorias e comungar de discussões pertinentes.
Esse foi o motivo da criação do Clube do Livro consagrado a Marcel Proust. De iniciativa de Marcella Lopes Guimarães, professora de História Medieval do Departamento de História da UFPR, o clube comemora dois anos de existência no dia 18 de setembro e, atualmente, tem seis participantes – dentre graduandos e doutorandos em História e em Letras e uma pós-doutoranda da UNESP.
Marcella relata que o grupo nasceu em meio a conversas com os alunos de uma disciplina que ministrou na Pós-Graduação em História. “Era uma matéria dedicada à leitura de uma grande obra do filósofo Paul Ricoeur e, nas discussões, externei meu desejo de voltar à leitura de grandes narrativas e que adoraria fazer isso na boa companhia de pessoas com os mesmos interesses”. Foi assim que alunos se engajaram na ideia, divulgada também na graduação.
O Clube dedica-se à apreciação da obra “Em busca do tempo perdido”, do escritor Marcel Proust. A produção é constituída por sete volumes – quase quatro mil páginas na edição brasileira – e, de forma resumida, narra a vida de Marcel em sua trajetória para se tornar escritor. Nesses dois anos de existência, o grupo já leu cinco dos volumes e está começando agora o sexto e penúltimo.
Os encontros para discussão acontecem a cada duas ou três semanas e, normalmente, têm duração de uma hora. Ao final das reuniões, os integrantes decidem juntos quantas páginas lerão para o próximo debate. Os lugares variam entre universidade, parques, cafés ou até mesmo casas dos participantes.
Marcella conta que além da leitura dos livros em si, são estudados artigos sobre a história. “Nosso próximo encontro, por exemplo, vai ser para discutir duas pequenas obras sobre ‘Em busca do tempo perdido’. Trata-se de uma espécie de intervalo para aprofundarmos nossa compreensão juntos”.
Apesar de o foco do grupo estar centrado em uma produção específica, todo o repertório de leitura dos participantes comparece às reuniões. “Num dos encontros, por exemplo, um membro do grupo contou que estava lendo também a tetralogia de Elena Ferrante. Eu e mais um dos integrantes nos inspiramos e resolvemos lê-la também. Um completa o outro e desafia a ler cada vez mais”, lembra a professora.
Podem participar do clube todos os amantes da leitura. Atualmente, como o grupo encontra-se no sexto volume da obra, pode atrair aqueles que a deixaram pelo caminho e desejam retomar. Mas
nada impede que interessados passem a frequentar os encontros para despertar o desejo pela leitura. Outra opção é ingressar no grupo em sua próxima etapa, que será dedicada a analisar a obra “A montanha mágica” de Thomas Mann. “Apoiamos-nos quando outros compromissos ou a correria da vida ameaçam nosso objetivo. Vemos mais coisas e chegamos mais longe pelo olhar do outro. Ler junto é um exercício de colaboração e de amizade”, explica Marcella.
De acordo com a criadora do clube o mais importante é fazer novos amigos e resgatar o hábito da leitura. “O clube me deu amigos, resgatou o Proust que eu havia deixado para trás, fez com que eu passasse a escrever mais, levou-me a outros autores que descobri em Proust e ampliou o alcance de minha leitura individual”, conta com gratidão.
Marcella tem um blog sobre literatura, onde aventura-se também na escrita. Confira.