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Alunos de Design criam livros infantis adaptados a crianças surdas ou com baixa visão; obras serão doadas a escolas

Dez livros adaptados para crianças em fase escolar com baixa visão ou com surdez, criados por alunos da graduação em Design Gráfico da UFPR, foram apresentados nesta quarta-feira (20) durante uma aula da disciplina optativa de “Livro Infantil Adaptado”, em Curitiba. As obras foram pensadas nas necessidades desses dois grupos de crianças e, ao fim do semestre, serão doadas a escolas da capital que oferecem educação inclusiva. Além de terem sido elaborados conforme orientações de estudos da área, os livros foram testados nas escolas, de forma que seus recursos pudessem refletir a expectativa dos pequenos. 

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Outra orientação para a produção das obras foi a preferência por histórias da cultura brasileira. Assim, a maioria das histórias foram baseadas em lendas do folclore nacional (especialmente de origem indígena), mas também houve uma adaptação de best seller infantil (“Flicts”, de Ziraldo, lançado em 1969) e histórias originais. Dos dez livros, seis são voltados a crianças surdas e, o restante, a crianças com baixa visão.

Livros adaptados a pessoas com baixa visão: “O Lagarto Carbúnculo”, sobre história do folclore gaúcho; e “A Lenda da Mandioca” e “A Lenda de Xivi, Tupã & a Lua”, inspirados em histórias de origem indígena. Fotos: Marcos Solivan/Sucom-UFPR

As obras exploram recursos que ajudam a despertar o interesse das crianças. Por exemplo, texturas, cores e contornos fortes para as crianças com baixa visão; e expressões bem marcadas nas ilustrações de personagens e vocabulário adaptado às palavras da Língua Brasileira de Sinais (Libras), para as crianças surdas.

Atrativos

“Foi bem gratificante, mesmo com todo o trabalho que deu”, contou o aluno Mateus Bonn, coautor do livro “A Lenda da Mandioca”, específico para crianças com baixa visão. Para explorar o sentido tátil das crianças, ele e Letícia Lippe pensaram em usar penas e outros materiais com textura, aproveitando o mote das vestimentas indígenas. Também usaram contornos bem marcados e alto contraste entre as ilustrações e o fundo.

Outra forma de exploração de textura ocorreu no livro “O Lagarto Carbúnculo”, que trata da lenda do folclore gaúcho que destaca um lagarto mágico que tinha um diamante na cabeça para afastar malfeitores. Nesse caso, os alunos Bianca Zerbatto, Lucas Garcia, Marcela Rolim e Mariane Correa se inspiraram no brilho do diamante para criar páginas texturizadas com glitter e paetês — este último para as escamas do lagarto.

As professoras de Design Juliana Bueno (à esq.) e Carol Calomeno coordenaram as apresentações dos projetos

Os desafios da adaptação surgiram em várias fases do processo de criação. Uma das equipes, por exemplo, descobriu que teria de “reinventar” palavras do livro “Flicts”, como “horizonte”, porque esta não existe no vocabulário de Libras. Para que as crianças surdas pudessem se ver nos personagens, as cores criadas por Ziraldo foram personificadas.

Demanda

A professora Carol Calomeno conta que a disciplina busca sensibilizar os futuros designers para uma perspectiva de inclusão escolar que chegue aos livros infantis. “Essa disciplina tem caráter extensionista, porque há muito material, tanto para letramento quanto para contação, que precisa ser produzido para esses grupos de crianças”, diz ela.

Outra intenção é oferecer ideias para que o mercado editorial se motive a criar livros que atendam a todas as crianças em idade escolar, uma vez que os recursos que promovem acessibilidade não são impeditivos comerciais. Na visão de Carol, atualmente é mais viável o estímulo para que os livros infantis sejam produzidos por empresas que também pensam nas crianças com deficiência do que para que se desenvolva um mercado editorial específico.

Os alunos Bianca Zerbatto, Lucas Garcia, Marcela Rolim e Mariane Correa apresentam o livro “O Lagarto Carbúnculo”

“Essa perspectiva é mais fácil do que a de implementar um nicho porque a quantidade de livros a ser produzida é pequena e isso esbarra em questões de custo”, conta Carol. Há ainda o fato de que as escolas inclusivas — que são as ideais, conforme a política governamental vigente — seriam contempladas por obras também inclusivas. “Nessas escolas é comum que as crianças com deficiência não consigam acompanhar os livros como os coleguinhas porque as obras não são pensadas neles”.

A importância de incluir crianças com deficiência no mercado editorial foi reforçado por duas professoras de educação inclusiva que atuam na rede pública e acompanharam as apresentações. “Os livros são de uma qualidade absurda. Não temos acesso a material assim nem em nível comercial. São obras que interessam até a adultos, porque eles não tiveram nada parecido na infância”, disse Anne Goyos, diretora do Centro de Atendimento Educacional Especializado (CAEE) Natalie Barraga.

Já Suellyn Opolz, professora na Escola Municipal Ilza Souza Santos, de São José dos Pinhais, destacou que os livros despertaram a atenção das crianças surdas, para quem o letramento em português se mostra sempre um desafio. “Os alunos mostraram interesse contínuo pelos livros, não apenas durante as contações de histórias”, afirmou.