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Semana do Meio Ambiente discute a criação de parques estaduais

No início da semana, o governo do estado anunciou a intenção de ampliar em 43% a área verde protegida por parques no Paraná. A comunicação foi feita durante a abertura das comemorações da Semana do Meio Ambiente. Dentro de seis meses, o estado pretende criar seis novos parques ambientais e ampliar outras cinco unidades de conservação já existentes, somando mais 29,8mil hectares às reservas paranaenses.

Para que os novos parques sejam criados ou ampliados, em alguns dos casos, será preciso desapropriar áreas e realizar consultas públicas nas comunidades envolvidas, o que deve ser feito em 180 dias, o que já está criando uma série de polêmicas.

Polêmicas trazidas também para dentro da UFPR com a realização de uma mesa-redonda na Semana do Meio Ambiente promovida pelos estudantes de Engenharia Florestal, CREA-PR – Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura e pelos cursos de Engenharia Florestal da Unicentro e de universidades de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Uma das participantes da discussão, que teve como mediador o professor da UFPR Ivan Crespo, foi a jornalista Tereza Urban que fez um resgate da situação das Araucárias no Paraná desde o início da colonização. Segundo ela, a importância de se estabelecer limites e estratégias para controlar o uso da natureza só começou a ganhar corpo no século XIX, quando alguns países começaram a lançar campanhas que se opunham, por exemplo, à importação de penas e plumas de pássaros de países como o Brasil e a Índia, para a fabricação de broches e outros adornos.

“Eram discussões pitorescas, mas que já demonstravam uma preocupação em se estabelecer limites”, explica. “No Brasil, até a década de 80, as questões ambientais sempre foram tratadas de uma forma relacionada à economia. Durante muitos anos, foi o Ministério da Agricultura que cuidou da proteção da natureza. Ou seja, a raposa cuidava do galinheiro. E isso tem um preço. Num país onde o que predomina é a cultura extrativista não adianta imaginarmos que vamos conseguir criar um olhar ao contrário de uma hora para outra.”

Segundo Tereza, o Paraná assim como Santa Catarina, o Rio Grande do Sul e alguns pedaços de São Paulo e Rio de Janeiro, se tornou um dos últimos refúgios da Araucária, constituindo um ambiente único no planeta. Mas hoje, são apenas 60 mil hectares de florestas.

“Em dezembro de 2002, o Ministério do Meio Ambiente decidiu lançar a criação de áreas de preservação no Paraná e em Santa Catarina. Estamos entrando no terceiro ano de discussão. No final de 2003, uma força tarefa voluntária iniciou um trabalho para definir áreas para preservação emergencial e agora temos uma proposta sugerindo a criação de unidades na Região de Ponta Grossa – com o Parque Nacional dos Campos Gerais, Imbituva e Palmas, totalizando quase 97 mil hectares. Ainda é menos que 1% do que era a floresta original”, lamenta.

Contraponto – Outro dos participantes da mesa-redonda foi o engenheiro florestal e ex-secretário de turismo e meio ambiente de Ponta Grossa Álvaro Scheffer, garantiu que não há resistência à criação das unidades de preservação, mas apenas na forma como está sendo conduzido o processo. “É claro, ou nós preservamos o meio ambiente ou teremos problemas sérios em curtíssimo prazo de tempo. Mas é preciso contextualizar a situação”, disse.

Segundo ele, quem consome os recursos naturais não são os madeireiros ou a indústria, mas o ser humano. Para elucidar, Scheffer mostrou a evolução demográfica do Paraná desde a colonização. De pouco mais de 600 mil habitantes em 1920, o IBGE projeto uma população de 10.261.856 habitantes até o final de 2005.

“No início, a Araucária era a madeira disponível e utilizada para tudo até para fazer cadernos. Mas, com a abertura das matas e a evolução do maquinário, outras espécies começaram a ser plantadas, como o pinus, e começaram a substituí-la. Hoje temos condições de tentar acelerar o processo de recuperação amabiental. Não adianta travarmos pequenas áreas, se não incentivarmos a preservação das demais.”

O engenheiro florestal disse que um trabalho de conscientização com os proprietários da região já vinha sendo feito com bons resultados. “Até que esbarramos com a proposta da criação do parque nacional. Aquelas pessoas se sentiram traídas com a possibilidade de uma desapropriação. Longe de sermos contrários à criação das três unidades, temos pessoas que não abrem mão do direito de ficar em suas terras e que estão dispostas a adotar uma nova cultura de preservação.”

Scheffer falou ainda sobre problemas como a proteção dos mananciais, referindo-se a nascentes que ficam fora das áreas de limitadas e dos problemas trazidos pela ocupação do MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. “Uma lei e um assentamento fizeram morrer todas as áreas de campos naturais, consideradas como improdutivas e passíveis de invasões. O novo modelo ambiental está na cabeça das pessoas. Precisamos trabalhar primeiro a recuperação das matas ciliares, depois a questão da reserva legal e, em terceiro lugar a criação das unidades de preservação. Não concordo que temos apenas 0,8% de áreas de araucárias no Paraná. Só se eu estiver viajando sempre em círculos”, concluiu.

Semana – Nesta sexta-feira, dia 3, a continuação da Semana do Meio Ambiente da UFPR tem previstas visitas técnicas à Itaipu Binacional, Usina Eólica de Palmas e Usina da Petrobrás em São Mateus do Sul.

Foto(s) relacionada(s):


Encontro no auditório da Engenharia Florestal
Foto: Izabel Liviski

Fonte: Vivian de Albuquerque