A reitoria da Universidade Federal do Paraná divulgou nesta terça-feira (26) uma carta em que explicita princípios e defende a independência da universidade perante os candidatos que disputam cargos nas eleições gerais de 2010.
No texto, a reitoria lembra os compromissos assumidos pelos professores Zaki Akel Sobrinho e Rogério Andrade Mulinari, quando lançaram suas candidaturas a reitor e vice-reitor. ‘A universidade é de todos(as) e para todos(as), o que significa defendê-la como espaço democrático e público, no qual a premissa é a produção de conhecimento científico atrelado a políticas públicas de redução da pobreza e busca da sustentabilidade; de ações socialmente inclusivas e da melhoria da qualidade de vida de todos(as) os(as) brasileiros(as)’, lembram.
O texto também defende que a universidade deve manter uma postura republicana, baseada na ‘idéia de liberdade e pluralidade’. Esta postura republicana guiou a gestão nos últimos dois anos. Segundo o texto, ‘a UFPR tem mantido relações de respeito e diálogo com os parlamentares e com os gestores públicos de todos os partidos com os quais temos interagido sempre buscando alcançar os objetivos que beneficiem a nossa Universidade e o povo do Paraná’.
Isto possibilitou a obtenção de R$ 14 milhões em emendas parlamentares no Congresso Nacional e R$ 900 mil em emendas da Câmara de Vereadores de Curitiba, além de uma grande quantidade de convênios de cooperação com prefeituras e outros poderes públicos.
Independência republicana, no entanto, não significa ausência de posições e convicções sobre a educação superior e a produção de conhecimento. A reitoria entregou, no último dia 21, um documento à candidata à Presidência Dilma Rousseff (PT), explicitando as convicções da universidade sobre as ‘políticas públicas a serem desenvolvidas no próximo governo’ (link para a íntegra aqui).
O mesmo documento está sendo encaminhado para o candidato José Serra (PSDB).
A defesa de política educacionais e princípios, no entanto, não significam a defesa de candidaturas. ‘Não podemos assinar manifestações de apoio que privilegiem candidaturas ora colocadas neste momento eleitoral no país’, defende o texto.
As manifestações políticas são legítimas, mas são pessoais, não institucionais. A independência republicana é o que permite à universidade cumprir seu papel social, econômico e cultural, interagindo com a sociedade, amplamente. Isto só é possível ‘se a universidade estiver aberta para os diversos segmentos da sociedade, o que torna qualquer vinculação a partidos ou posições políticas contrárias à sua missão social’, finaliza a carta.
Abaixo, o texto na íntegra:
Posição da Reitoria da UFPR nas eleições 2010
Vivemos um momento rico da democracia em nosso país, com eleições gerais majoritárias e proporcionais para a escolha aos cargos executivos e legislativos de nível federal e estadual. Neste contexto, a reitoria da Universidade Federal do Paraná na gestão 2008-2012 definiu desde logo que seguiria o que está expresso e firmado com a comunidade paranaense e, em particular, a nossa comunidade acadêmica através da Carta de Princípios que apresentamos no momento de nossa candidatura à Reitoria, em julho de 2008. Dizíamos na ocasião:
O terceiro princípio se pauta na preservação da universidade das injunções político-partidárias circunstanciais. A universidade é de todos(as) e para todos(as), o que significa defendê-la como espaço democrático e público, no qual a premissa é a produção de conhecimento científico atrelado a políticas públicas de redução da pobreza e busca da sustentabilidade; de ações socialmente inclusivas e da melhoria da qualidade de vida de todos(as) os(as) brasileiros(as).
Naquele momento definimos que não atrelaríamos a UFPR ou sua comunidade a nenhum interesse político-partidário ou a qualquer mandatário, adotando uma postura republicana que tenha por base a idéia de liberdade e pluralidade, características essenciais da Universidade. Em coerência aos princípios assumidos, durante estes quase dois anos de gestão a reitoria da UFPR tem mantido relações de respeito e diálogo com os parlamentares e com os gestores públicos de todos os partidos com os quais temos interagido sempre buscando alcançar os objetivos que beneficiem a nossa Universidade e o povo do Paraná. Neste período foram promovidas diversas ações de relacionamento, com visitas formais e reuniões com a bancada federal, que tem apoiado nossa Universidade com emendas ao orçamento federal (somente neste ano foram R$14 milhões de reais), além de apoiar a relação com os ministérios para apresentação de nossos pleitos de modo mais efetivo. A isenção político-partidária também pautou as visitas realizadas à Câmara Municipal de Curitiba sendo que diversos vereadores propuseram emendas em favor do HC, do HT e da Maternidade Vitor do Amaral (este ano foram R$900 mil). Assim também foi pautada a busca por apoio dos prefeitos de Curitiba e outros municípios, bem como dos governadores do Paraná, sempre de modo institucional e contando com o enorme respeito e consideração que a UFPR desfruta junto às autoridades de nosso estado, que se materializa em um sem número de convênios de cooperação, que resultam em avanços na melhoria da qualidade de vida de nossa população.
Durante estes quase dois anos de gestão, aproveitamos todas as ocasiões para professar a nossa convicção quanto à necessidade de aprofundarmos o investimento nas universidades públicas, ampliando o financiamento governamental para Educação, Ciência e Tecnologia e Saúde. Neste espírito aproveitamos a presença em Curitiba da candidata Dilma Roussef para entregar-lhe um documento no qual explicitamos nossas convicções sobre as políticas públicas a serem desenvolvidas no próximo governo. (Leia o documento na integra no site da UFPR). Este documento, está sendo encaminhado igualmente para o candidato José Serra para que ele também possa conhecer nossa opinião sobre o futuro da Educação no Brasil. Consideramos assim que não podemos assinar manifestações de apoio que privilegiem candidaturas ora colocadas neste momento eleitoral no país, mantendo a coerência com os princípios essenciais que norteiam uma universidade pública e que publicamente assumimos, além do disposto no Código de Ética do Servidor Público, que veda manifestações de caráter sócio-político-partidário e religioso.
Tendo esta postura suprapartidária como parâmetro de respeito a todos os docentes , técnico-administrativos e estudantes da UFPR, queremos reafirmar que respeitamos as manifestações individuais de cada cidadão componente de nossa comunidade, sendo estas legítimas e oportunas em momento eleitoral, mas sempre respeitando as normas quanto ao uso do espaço próprio da instituição.
Nosso partido é a UFPR e nosso foco é lutar pela valorização da Educação como o maior mecanismo de transformação social disponível. Finalizamos resgatando outro trecho de nossa carta de Princípios:
Diante do quadro de profundas transformações econômicas ensejadas pela globalização; da rápida inovação tecnológica; das complexas relações sociais e culturais; das transformações no processo de trabalho e qualificação profissional e do debate epistemológico trazido pelos novos paradigmas científicos, a universidade deve adotar ação participativa, atuante e integrada à vida econômica e social da comunidade nacional e internacional. Deve ainda torna-se parceira na construção do desenvolvimento local, regional e brasileiro, ampliando os mecanismos de interação e cooperação com a sociedade, num relacionamento colaborativo e independente.
Portanto, estes desafios ligados diretamente à produção de conhecimento e ao crescimento econômico, social e cultural do estado só podem ser realizados se a universidade estiver aberta para os diversos segmentos da sociedade, o que torna qualquer vinculação a partidos ou posições políticas contrárias à sua missão social.
Foto(s) relacionada(s):
Urna eletrônica utilizada em evento da Justiça Eleitoral para orientar eleitores
Foto: Elza Fiúza/ABr 3.set.2010
Link(s) relacionado(s):
Fonte: Mário Messagi Jr.
