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FEDERAL DO PARANÁ

Projeto da Engenharia Florestal da UFPR visa eliminar o desperdício na indústria madeireira

Não é de hoje a polêmica da derrubada de árvores nas florestas brasileiras. Também não são poucas as imagens mostradas na mídia dessas derrubadas sem nenhum tipo de organização e fiscalização. Mas o que mais chama a atenção em toda esta realidade é mesmo a questão do desperdício.

O Brasil tem hoje um índice de aproveitamento de madeira tropical que não ultrapassa os 42% na indústria, com o restante dividido em 30% nas caldeiras e queima de carvão e 28% de desperdício. Índices que se transpostos para a quantidade em árvores são ainda mais preocupantes.

Com o aproveitamento de apenas 42%, o Brasil precisa retirar 2,4 árvores para obter o volume comercial de uma. Número que na África chega a três árvores. E é justamente visando mudar esses números que um projeto capitaneado pela Universidade Federal do Paraná lança uma tecnologia pioneira de aproveitamento dos resíduos gerados pela indústria madeireira: o Projeto PRIMAS – Padronização do Resíduo Industrial de Madeira Sólida.

TECNOLOGIA – “Nosso objetivo é criar novos padrões tecnológicos na utilização de madeira para reduzir o desperdício e, ao mesmo tempo, contribuir para a própria sustentabilidade da atividade, eliminando as práticas incorretas”, explica o professor Dartagnan Baggio Emerenciano, coordenador do curso de Engenharia Florestal da UFPR e diretor científico da FUPEF – Fundação de Pesquisas Florestais.

O professor explica que para transformar árvores em pranchas, vigas, caibro e tábuas – colocando-as de acordo com o padrão de qualidade do mercado – é que se chega a um índice tão baixo de aproveitamento, do qual não são permitidos nós, furos de bichos ou outros “defeitos” naturais da madeira. E o que o PRIMAS vem desenvolvendo é a metodologia para criar novos padrões tecnológicos, ou seja, novos produtos. “São dois novos padrões”, explica. “A pastilha de madeira e os perfilados de madeira branca de alta densidade, que podem ser utilizados em inúmeras aplicações na construção e decoração, aumentando o rendimento para um índice de 54 a 60% de aproveitamento.”

MATO GROSSO – Durante dez dias, a equipe de trabalho da UFPR esteve em Mato Grosso, visando identificar quem poderia fornecer os resíduos de qualidade para servirem de matéria-prima e, ao mesmo tempo, participar do Projeto. Foram visitadas 25 empresas indicadas pelo Sindicato dos Madeireiros do Mato Grosso e identificados seis pólos potenciais para a utilização dos resíduos em grande quantidade nas serrarias, indústrias, madeireiras e até mesmo no artesanato.

“O que fizemos foi um trabalho de conscientização das empresas para os novos produtos. Produtos que, além de evitarem o desperdício, podem gerar novos lucros e novos empregos”, esclarece Emerenciano. “Mostramos para eles a inovação tecnológica com o desenvolvimento e criação de três máquinas. São equipamentos baratos justamente para criar a possibilidade da sua implantação.”

O conjunto de três máquinas, capaz de gerar pelo menos seis empregos diretos, custa o mesmo que uma plaina quatro faces. A idéia é estimular a organização de cooperativas, por exemplo. “Assim, uma prefeitura pode investir para gerar empregos e reverter esse ganho em benefícios para a comunidade. São máquinas adequadas ao perfil das indústrias tropicais, com baixo nível de automação, mas com toda a segurança necessária para lidar com pequenos pedaços de madeira, antes considerados como resíduos.”

MANEJO ADEQUADO – Visando a sustentabilidade da atividade, o PRIMAS também trabalha com a conscientização sobre o manejo adequado das florestas tropicais, através de uma exploração racional. “Cada árvore tem uma dimensão padrão que identifica sua entrada na senilidade. Essas árvores velhas, quando não cortadas, têm uma função pouco significativa na floresta em termos de equilíbrio oxigênio x gás carbônico. Por outro lado, quando são extraídas da floresta, mediante um manejo racional, propiciam o desenvolvimento de mudas e outras espécies em seu entorno”, explica o professor.

E O PARANÁ COM ISSO? – Por ano, o Paraná industrializa aproximadamente 750 mil metros cúbicos de madeira vinda da Amazônia. “A madeira vem de lá para ser beneficiada aqui”, conta o engenheiro florestal Marcelo Lubas, secretário geral da FUPEF. “Ou seja, somos os causadores do desperdício lá em cima, mas não conseguimos ver isto a olho nu aqui em baixo. Na tecnologia do pastilhamento, cada metro cúbico de resíduo pode ser transformado em uma quantidade de 25 a 30 metros quadrados de painel pastilhado numa espessura de 20 milímetros. É um número mais que significativo quando pensamos que apenas até fevereiro deste ano já foram cortados 724 quilômetros quadrados de madeira só no Mato Grosso.”

Por todos estes aspectos, os novos produtos do Projeto PRIMAS já começam a chamar a atenção de possíveis parceiros. Um deles é o Brasilian Wood da APEX do Brasil – Agência de Promoção das Exportações Brasileiras. No final do mês de maio, a UFPR e a FUPEF irão à França e à Itália para participar de feiras onde irão expor as pastilhas. A APEX também já sinaliza o interesse em inserir o PRIMAS dentro do programa Apex Madeira.

INÍCIO – A idéia do PRIMAS nasceu ainda em 1981 quando o professor Dartagnan começou a plantar experimentos na África, país que visitou novamente em 1998 para acompanhar os resultados. O objetivo já era trabalhar com o manejo adequado das florestas, visando evitar o desperdício.

Com aquele país, a UFPR já tem – desde o ano passado – um projeto de cooperação técnica, para melhorar o sistema produtivo e de ensino florestal em Moçambique, abrangendo as áreas de silvicultura, manejo florestal, economia florestal e tecnologia da madeira.

NOVA MISSÃO – Uma nova visita ao Estado do Mato Grosso está prevista já para as próximas semanas. Para a África, onde o PRIMAS também tem aplicação garantida, a viagem está agendada para o mês de julho com uma missão da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores. Serão três semanas de trabalho com a realização de seminários para divulgação da metodologia, treinamento e visita aos locais onde será implementado o projeto.

Um próximo passo deverá ser a criação de um Selo de Sustentabilidade a ser concedido às empresas que participarem do Projeto, diminuindo o desperdício e evitando a derrubada de milhares de novas árvores.

Foto(s) relacionada(s):


Desperdício nas madeireiras
Foto: Arquivo PRIMAS


Pastilhas feitas a partir de resíduos
Foto: Arquivo PRIMAS


Registro da queima dos resíduos
Foto: Arquivo PRIMAS

Fonte: Vivian de Albuquerque