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Nutricionista do HC recebe prêmio internacional

Durante cinco anos, Sandra Justino dedicou-se a um estudo de doutorado inédito no mundo: a termogênese induzida pela dieta em pacientes com síndrome do intestino curto, avaliada por meio da calorimetria indireta. Não só o nome da pesquisa é difícil, como também o foi o trabalho. Era preciso acompanhar vários pacientes e também pessoas com intestino normal para avaliar resultados. Esses voluntários precisavam ficar por três dias na cama, durante oito horas, sem poderem se mexer. Para fazer isso, Sandra chegava ao Hospital das Clínicas da USP por volta das 5h30min de onde só saía no final da tarde.

Um esforço que valeu a pena. No meio de seus estudos sobre a termogênese, a nutricionista acabou descobrindo um outro caminho que lhe rendeu a publicação do artigo premiado no The International Journal Applied and Basic Nutritional Sciences em 2004.

“Para a minha tese, eu precisei analisar vários itens”, conta Sandra. “E um dos pontos foi a medição do hidrogênio expirado em pacientes com a síndrome do intestino curto, para avaliar o grau de fermentação intestinal antes e após o tratamento com antibiótico. Para isso, selecionei apenas pacientes que sofreram trombose mesentérica ou acidentes que os fizeram perder parte do intestino delgado. Como eu precisava de uma população homogênea, não poderia estudar, por exemplo, aquelas pessoas que tiveram a redução do órgão por causa de um câncer ou outra doença que altere o metabolismo.”

A nutricionista explica que as pessoas saudáveis apresentam valores de hidrogênio considerados dentro de um padrão normal. Já os pacientes estudados tinham esses números bem mais elevados, indicando uma má absorção e portanto inadequado aproveitamento do que eles comiam por causa do intestino curto e trânsito intestinal mais rápido.

“A síndrome do intestino curto leva a uma série de intercorrências, tais como: extensa diarréia e má absorção de nutrientes, entre outras”, explica. “Isso acarreta em um comprometimento do estado nutricional, podendo levar à desnutrição grave. Tudo depende do tamanho do intestino remanescente e/ou da sua capacidade de adaptação. Observamos que os pacientes estudados tinham elevada fermentação e também vários desconfortos – distensão abdominal, cólica e flatulência – e por isso passamos a tratá-los com antibióticoterapia. Como resultado do tratamento, os pacientes tiveram uma normalização dos resultados e melhora dos sintomas, o que acabou chamando a atenção da comunidade científica internacional. Ou seja, ficou constatado que era possível tratá-los com sucesso.”

Contudo a Dra. Sandra Justino chama atenção para o fato de que o tratamento deve ser individualizado e com cautela, uma vez que para alguns pacientes a fermentação – devido às adaptações da flora intestinal – pode ser inclusive benéfica para alguns pacientes.

Premiação – O trabalho da Dra.Sandra concorreu com os de 200 outros pesquisadores internacionais e foi o vencedor na categoria “Nutrição e Metabolismo”. A entrega do prêmio foi realizada em agosto no Hotel Hilton em Bruxelas. O tratamento pesquisado já vem sendo utilizado com sucesso no ambulatório de síndrome de intestino curto no Hospital das Clínicas de São Paulo, onde a pesquisa foi desenvolvida durante o doutorado de Sandra na Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina.

Uma outra parte da tese sobre a termogênese também já foi publicada esse ano pela importante revista européia “Clinical Nutrition”. A Dra. Sandra trabalha na UTI do Hospital de Clínicas da UFPR onde também atua como membro do Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos. Recentemente foi convidada para fazer parte do corpo de revisores da revista internacional “European Journal of Clinical Nutrition”. Em 2004 foi Nutricionista destaque do Paraná.

“Hoje a Nutrição está cada vez mais abrangente”, diz. “Pode-se trabalhar com a coletividade sadia (administração em serviço alimentar), na saúde pública (no programa saúde da família, programa de segurança alimentar e nutricional),
grupos especiais (nutrição do atleta, nutrição na geriatria) e na nutrição clínica (nas diversas especialidades) em hospitais, clínicas e consultórios particulares. Eu, por exemplo, trabalho com a terapia nutricional em pacientes críticos. O prêmio recebido em Bruxelas não é só uma conquista particular, mas representa mais uma avanço para todos os nutricionistas brasileiros e um estímulo tanto para a continuidade como para o desenvolvimento de outras linhas de pesquisas científicas que visem a melhoria do tratamento dos diferentes tipos de pacientes. Embora existam vários e excelentes estudos publicados envolvendo pacientes com síndrome do intestino curto, minha tese foi inédita e reconhecida na comunidade científica nacional e internacional.”

Foto(s) relacionada(s):


A Dra. Sandra Justino estudou os pacientes com a síndorme do intestino curto
Foto: Izabel Livisky

Fonte: Vivian de Albuquerque