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“Não existe desenvolvimento no país sem ciência”, dizem reitores da UFPR e da UFPEL em disciplina transversal

Uma discussão sobre o papel da ciência, tecnologia e inovação e um debate sobre o programa Future-se marcaram a aula inaugural da disciplina transversal “Metodologia de Pesquisa Científica” da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A temática foi abordada pelo reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Pedro Rodrigues Curi Hallal, juntamente ao reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca. Ao final, houve um debate com professores e estudantes de pós-graduação sobre a proposta do Ministério da Educação (MEC) para universidades e institutos federais. O encontro, que também foi transmitido ao vivo pelo canal do YouTube da UFPR TV, ocorreu na manhã de quarta-feira (14) no Campus Jardim Botânico da UFPR, em Curitiba.

Além dos reitores, compuseram a mesa de abertura a vice-reitora da UFPR, Graciela Inês Bolzón de Muniz; o pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade, Francisco de Assis Mendonça; o coordenador dos programas de pós-graduação stricto sensu da UFPR, André Luiz Felix Rodacki; e a coordenadora da disciplina transversal, Angela Couto Machado Fonseca, professora do Departamento de Direito Privado da Universidade.

Reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca (sentado à esquerda), discutiu papel da ciência, tecnologia e inovação para desenvolvimento do país e Future-se junto ao reitor da UFPEL, Pedro Rodrigues Curi Hallal (à direita). Fotos: Marcos Solivan/Sucom-UFPR

A disciplina transversal é ofertada nas modalidades presencial e remota pela Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PRPPG) da UFPR por meio da Coordenação de Programas de Pós-graduação stricto sensu. Clique aqui e leia uma matéria sobre a abordagem e o formato da disciplina.

Confira abaixo entrevista com o reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Pedro Rodrigues Curi Hallal, e o reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, sobre a discussão da temática e o programa Future-se:

Chirlei Kohls – O tema da aula inaugural foi “O papel da ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento do país”. De que maneira a pesquisa impacta a sociedade?
Pedro Rodrigues Curi Hallal, reitor da UFPEL – O objetivo da palestra foi mostrar aos estudantes de pós-graduação o quanto a gente pode transformar a realidade através da ciência. Basicamente, usei um exemplo local da UFPEL. Peguei quatro grandes pesquisas realizadas na trajetória da UFPEL e mostrei os impactos que elas tiveram sobre as políticas públicas e o dia a dia da sociedade. A ideia foi mostrar que a pesquisa cada vez mais tem que ser feita para as pessoas e menos para os pesquisadores. Esse é um lema importante que a gente tem defendido. Dando um exemplo bem concreto: o senso comum sempre disse que os bebês deveriam dormir de lado. As mães, historicamente, tinham medo de botar os bebês de barriga para cima por receio de se engasgarem e que tivessem dificuldade em respirar. Estudos conduzidos em Pelotas e em outros lugares mostraram que a posição mais segura para a criança dormir, ao contrário, é de barriga para cima. Só para ter um exemplo de como a gente pode fazer pesquisa para resolver problemas reais das pessoas.
Ricardo Marcelo Fonseca, reitor da UFPR – Não existe desenvolvimento no país, como também não existe soberania, sem ciência, tecnologia e inovação. Elas são um verdadeiro motor do desenvolvimento, aquilo que permite a uma sociedade dar os passos adiante não só em termos de civilidade, o que já é bastante importante especialmente em tempos tumultuados como o nosso, mas também em termos de desenvolvimento econômico. No Brasil, o responsável principal de longe pela produção da ciência, tecnologia e inovação é a universidade pública. Então aqui é o lugar por excelência para travar e capilarizar esse debate, como fizemos hoje, nos nossos programas de pós-graduação como um todo e, claro, sobretudo em vista do momento que vivemos para pensar também criticamente os desafios imensos que são colocados para comunidade científica e para as universidades no âmbito da pesquisa.

“Defender pesquisa é defender o futuro do país, o seu desenvolvimento e a sua soberania”, Ricardo Marcelo Fonseca, reitor da UFPR (à esquerda)

CK – Qual é a importância de discutir essa temática com estudantes de pós-graduação diante do contexto atual no país?
PRCH, reitor da UFPEL – Primeiro, para estimular os jovens pesquisadores que eles façam pesquisa não para contar pontos no Qualis [Capes], mas sim para mudar a realidade. E depois, um estímulo à carreira científica, à pesquisa, ciência e tecnologia no momento em que o país cada vez mais vira as costas para essa pauta. A gente tem um momento em que o orçamento do Ministério da Ciência e da Tecnologia não para de diminuir e o orçamento do Ministério da Educação diminui e, além de tudo, ainda é bloqueado pelo governo federal. Num momento tão crítico como esse é importante que a gente mostre para a comunidade o quanto é importante a pesquisa que é feita. Nenhum país sai de crise sem investimento em ciência, tecnologia e educação. Se pegar os grandes exemplos de países que saíram de crises, o Japão e a Coreia do Sul e depois todos os países escandinavos e a Alemanha, eles fizeram investimento em educação, ciência e tecnologia. E o Brasil está querendo fazer um movimento ao contrário. O Brasil acha que vai sair da crise fazendo investimento em economia. Só que a economia não é sustentada quando não tem educação de qualidade.
RMF, reitor da UFPR – Os estudantes de pós-graduação são por excelência aqueles que estão no processo de formação para ser os nossos cientistas do futuro. São aqueles que de um modo geral optaram pela ciência como um meio de vida. Envolvê-los nessa discussão, portanto, é bastante básico. É aquilo que é absolutamente necessário. E é isso que a Universidade já tem feito. Acho que a nossa iniciativa de hoje reforça muito isso, porque discutir pesquisa e ciência é um pouco o cotidiano de quem está na pós-graduação. Eu acho que o conjunto das universidades tem que dar um salto no sentido de capilarizar essa discussão também na sociedade para aqueles que não estão envolvidos com a universidade, porque hoje eu diria que é urgente que o cidadão comum, aquele que não tem uma ligação direta com a universidade, entenda que defender a pesquisa não é uma pauta corporativa. Defender pesquisa é defender o futuro do país, o seu desenvolvimento e a sua soberania.

CK – Em relação ao programa Future-se, como a proposta do MEC chega às universidades e institutos federais nesse cenário?

“O objetivo foi mostrar aos estudantes de pós-graduação o quanto a gente pode transformar a realidade através da ciência”, Pedro Rodrigues Curi Hallal, reitor da UFPEL

PRCH, reitor da UFPEL – Primeiro, chega na hora errada. Num momento em que a universidade está sem dinheiro para pagar suas contas mais básicas, o Ministério da Educação apresenta uma proposta que seria a salvação de todos os problemas da universidade e obviamente que o momento é muito inadequado. Primeiro, então, vamos garantir que as universidades fiquem abertas até o final do ano e tenham seus orçamentos desbloqueados para depois pensar o nosso futuro. Mas o MEC não fez assim e resolveu apresentar a proposta de forma apressada. O Future-se não é só um mau projeto por questões conceituais, pela visão neoliberal, pela visão baseada só na economia e não na educação. É um mau projeto porque foi feito com pressa e falta aprofundamento. Acho que um resumo do que é o Future-se é que é um projeto que faz uma coletânea de coisas que a gente já faz e apresenta algumas novidades que são ruins, especialmente a tentativa de botar uma organização social para administrar a universidade, que é completamente desnecessária e inadequada nesse momento.
RMF, reitor da UFPR – Como discutimos hoje aqui, me parece que é um momento inadequado para discutir o programa no seguinte sentido: hoje nós estamos numa situação de sobrevivência das instituições e de preocupação com o seu presente. Para discutir um programa tão abrangente e importante para as universidades como esse, o ideal seria que nós não estivéssemos tendo que atender cotidianamente as nossas emergências. Discutir o presente hoje é mais crucial do que discutir o Future-se, mas as universidades são o lugar do debate e a gente não pode se esquivar do debate. Hoje debatemos muito o Future-se nas suas intenções, nas suas lacunas, nos seus problemas. E acho que é isso que temos que fazer, tanto que nesse momento o que existe é uma consulta pública sobre esse programa. A presença do reitor da UFPEL e da nossa comunidade de pesquisadores cumpre com o que temos que fazer nessa etapa: debater. Fizemos uma apreciação, que eu lamento que não tenha acontecido antes no processo de preparação desse projeto de lei, mas que espero que contribua para nosso debate interno e para o debate social a esse respeito.

CK – De que maneira o Future-se pode (ou precisa) ser pensado e discutido? Quais principais pontos devem ser observados?
PRCH, reitor da UFPEL – Primeiro, ele precisa ser construído. O Future-se é um esboço, uma coisa preliminar, um rascunho, que eu acho que o Ministério fez para tentar mostrar algum trabalho. Eles precisam apresentar um projeto de verdade, que tem que ser discutido com as universidades, porque são as universidades que seriam alvo do Future-se. E o projeto não foi discutido com as universidades na sua elaboração. Agora, feito isso, ele poderia passar por um processo de discussão e construção. Todos os reitores e reitoras estão dispostos a colaborar com o Ministério da Educação na ideia de criar um novo programa.
RMF, reitor da UFPR – Eu acho que cada comunidade está fazendo ou definindo a sua estratégia. E não só a comunidade. As entidades, o DCE (Diretório Central dos Estudantes), os professores e técnicos já estão debatendo isso. Os nossos setores de ensino têm feito as suas reuniões internas e cada qual tem a sua estratégia. A minha premissa, como árbitro dessa discussão considerando minha posição institucional de reitor, é de que nós temos que capilarizar. Nós temos que tentar ver as intuições e os problemas, as omissões e os receios que essa proposta de lei traz. Temos que aprofundar e qualificar esse debate para informar a comunidade. Nós não estamos no momento ainda de dizer sim ou não a essa proposta. Nós estamos num momento de consulta pública discutindo um primeiro desenho do projeto de lei. Isso ainda vai passar por um longo processo legislativo, eu acho que o processo de discussão será longo. A universidade não pode se furtar de nenhuma etapa dessa discussão. Faremos isso para que no momento efetivo em que tenhamos que optar ou não pelo programa, quando o projeto de lei se transformar em lei, a gente esteja com um nível de compreensão e de debate completamente maduro aqui na UFPR.

Assista abaixo à aula inaugural completa:

Por Chirlei Kohls
Parceria Superintendência de Comunicação e Marketing (Sucom) e Agência Escola de Comunicação Pública e Divulgação Científica e Cultural da UFPR

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