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Método de controle da anemia em ovinos e caprinos vem sendo trabalhado na UFPR

“As infecções parasitárias são responsáveis por até 40% dos prejuízos para criadores, podendo inviabilizar a produção”, diz o professor. Com o uso do método conhecido por “Famacha”, os criadores podem avaliar se é preciso ou não fazer a aplicação de vermífugos nos animais. Para isso necessitam apenas de um cartão de cores e de um treinamento apropriado.

O Método Famacha é o carro-chefe do SICOPA – Sistema Integrado de Controle Parasitário – outro dos trabalhos do professor – uma combinação de práticas de manejo cujo objetivo é reduzir a contaminação dos animais e da pastagem, assim como manter a eficácia das drogas antiparasitárias. O professor Molento ressalta que este conceito visa atender a uma grande demanda da agroecologia, sendo definido como tratamento seletivo.

O método baseia-se essencialmente na observação individual dos animais, comparando as cores do cartão de um até cinco. O cartão tem a finalidade de guiar o técnico de forma prática, definindo padrões e orientando para a necessidade ou não do tratamento. Neste caso é possível identificar com facilidade se ovelhas e cabras estão ou não doentes e necessitam de cuidados. “O que fazemos é a comparação da cor do olho, isto é, da conjuntiva de cada animal, com as cores do cartão e isto pode ser feito pelo próprio produtor”, explica.

A graduação vai de um – para o animal sadio – até cinco – correspondente à anemia mais grave causada pelo parasita Haemonchus contortus. Isso permite que o produtor faça um julgamento rápido de qual o melhor momento para fazer o tratamento, identificando animal por animal o que também permite que se faça uma seleção dos animais mais resistentes – graus um e dois – contra os vermes e se descarte aqueles mais fracos – graus 3, 4 e 5. “Deve-se evitar que existam animais quatro e cinco no rebanho”, esclarece Molento. “A categoria mais sensível às parasitoses é a de cordeiros e borregos a partir da terceira semana de vida, devido à sua baixa resposta imune e grande suscetibilidade. Para essas categorias sugere-se que os animais sejam avaliados a partir de 20, 25 dias de idade, seguindo uma rotina em períodos curtos.”

Segundo o professor, estima-se que só no Brasil os produtores percam, por ano, em torno de R$ 200 milhões por causa das infecções parasitárias nos rebanhos de ovinos e caprinos. Condição que poderia ser facilmente modificada com a adoção do SICOPA – integrando o método Famacha, uma vez que este método permite que a anemia seja rapidamente controlada evitando mortes e prejuízos para o criador. Outra vantagem, ainda, é a do custo já que o tratamento direcionado acaba saindo muito mais barato, permitindo uma redução de até 96% como já observado com produtores em uma propriedade-teste próxima a Ribeirão Preto.

“Sei do árduo trabalho de esclarecimento com produtores na adoção de novas tecnologias, da contínua necessidade de reduzir custos na produção e de como é difícil um produtor rural adotar medidas alternativas de controle parasitário. Estou convencido de que podemos mudar este panorama caso todos os integrantes da cadeia produtiva demonstrem claramente a intenção para isto”, diz Molento.

O cartão Famacha custa R$16,00 e é distribuído em todo o Brasil sem custo adicional. Basta enviar um e-mail para molento@ufpr.br, fazendo a solicitação.

NO BRASIL – O método Famacha foi trazido para o Brasil ainda no ano 2000 quando foi realizado um experimento para a sua validação no rebanho ovino do Paraná. Já naquele momento a utilização do método promoveu uma redução de 79,5% nas aplicações com medicação antiparasitária. Hoje, o método é extensivamente utilizado no Brasil e em fazendas com rebanhos pequenos e grandes – mais de 5 mil animais. O programa mais amplo é realizado no estado do Rio Grande do Norte onde somente no ano passado foram feitas 90 mil avaliações em 240 propriedades de produtores de baixa renda.

“Eu recebo dados de todo o Brasil sendo estes compilados e reenviados para os técnicos e formadores de opinião”, esclarece Marcelo Molento. “Já passam de dois mil os técnicos que treinei, sendo que muitos estão desenvolvendo selos de produção orgânica após a adoção do método. Aqui na UFPR todo o manejo sanitário de ovinos e caprinos é feito por alunos treinados. Já produzimos alguns trabalhos em congressos e estamos – eu e a professora Alda Monteiro – muito satisfeitos com a adaptação dos animais e a participação de alunos e produtores. Estamos realizando cursos práticos e formando mão-de-obra capacitada. Nosso objetivo é reduzir o uso de medicamentos, visto que a nossa própria fazenda – a Fazenda do Canguiri está situada na área de preservação ambiental do Irai”, conclui.

Foto(s) relacionada(s):


Método funciona com a comparação da conjuntiva dos animais
Foto: Arquivo professor Marcelo Molento

Fonte: Vivian de Albuquerque