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I Concurso Literário da Editora UFPR divulga vencedor e menções honrosas; conheça os poetas que se destacaram

Três novos poetas — um fluminense, uma mineira e um paulista — foram os destaques do I Concurso Literário da Editora UFPR, que recebeu inscrições de livros de poesia de todo o Brasil e teve o resultado divulgado no fim de julho. Thássio Ferreira, de 35 anos, foi o vencedor do concurso com o livro “Itinerários”, que será publicado pela editora e lançado em Curitiba durante a XVI Feira do Livro Editora UFPR, em setembro. Já o paulista radicado em Curitiba Thiago Hoshino (autor de “Nverso”) e Adriane Garcia Pereira (que escreveu “Eva-proto-poeta”) receberam menções honrosas. Os três foram os finalistas do concurso.

Leia trechos das obras finalistas>>>

Ferreira inscreveu “Itinerários” sob o pseudônimo “Manoel Abreu”, junção de dois autores brasileiros que influenciaram sua escrita: o mato-grossense Manoel de Barros e o gaúcho Caio Fernando Abreu. “Especificamente nos poemas do “Itinerários”, eu sinto do Manoel uma busca por inventar poeticamente a linguagem para falar do mundo, e do Caio um certo sentimento de exílio, de busca por experiências e um pouso”, explica.

Adriane Garcia Pereira, Thássio Ferreira e Thiago Hoshino, os finalistas do I Concurso Literário da Editora UFPR. Fotos: Acervo Pessoal

Segundo o autor, “Itinerário” veio na esteira do seu livro de estreia, “(DES)NU(DO)”, de 2016. Os poemas de “Itinerário” são pessoais, na medida em que representam as “andanças” do autor pelo mundo — trazem à tona locais e lembranças, como o Carnaval no Rio de Janeiro — e refletem uma busca interior. Por outro lado, têm também sentido poético, já que tratam da trajetória da poesia de Ferreira em busca de uma linguagem própria marcada por “reinvenções e ressignificações”.

A possibilidade de publicação da obra, que o concurso oferece, foi o que chamou a atenção de Ferreira. “A publicação representa uma certa chancela de qualidade que os leitores ainda buscam, inclusive dado o oceano de conteúdo da internet, e especialmente sendo uma publicação a partir de um concurso”, conta. “Também é uma forma de alcançar públicos que por qualquer motivo ainda preferem ler em suporte físico”.

Pluralidade

A editora recebeu cerca de 200 inscrições, das quais 176 foram homologadas. Os livros foram avaliados pela comissão, composta por dez professores, pós-graduandos e servidores, sem que se soubessem os autores, que inscreveram as obras sob pseudônimo. Segundo o diretor da Editora UFPR, Rodrigo Tadeu Gonçalves, as obras selecionadas têm uma visível diferença no estilo e na temática, o que acabou sendo um ponto interessante para a atuação dos julgadores. “Foi uma experiência ótima”, define.

A poesia de Adriane Pereira, de 45 anos, por exemplo, perpassa temáticas de gênero. Segundo a autora, “Eva-proto-poeta” traz uma versão do livro Gênesis — mais especificamente da criação de Adão e Eva, mas incluindo Lilith, a mulher que figura em alguns textos antigos como a primeira a ter sido criada. O pseudônimo que a autora escolheu, Lou Salomé, escritora e amiga de Friedrich Nietzsche e do poeta Rainer Maria Rilke, faz alusão a uma “mulher libertária”, que é o tom da obra.

“É um livro feminista e ‘herege’”, descreve Adriane, que é formada em História e especializada em Arte-Educação e Teatro. “O que me inspira é a ofensiva do Estado deixando de ser laico para ser religioso. A Bancada da Bíblia aumentando a olhos, impondo-nos, pouco a pouco, seu modo de ver autoritário. A perseguição à mulher, ao corpo da mulher e aos movimentos LGBTQIA”.

Forma

Thiago Hoshino, de 30 anos, buscou em “Nverso” certo experimentalismo poético. As principais temáticas estão fincadas nas religiões afro-brasileiras e na trajetória da própria família do autor. No livro, Hoshino trata de suas duas famílias: a de nascimento, que passou pelo Japão, pelo Rio Grande do Norte e por São Paulo, e a “de santo”.

Para contar essas histórias, reuniu os poemas em “núcleos de sentido” (ncestros, inspirado em diásporas de família; ngangas, na vivência do candomblé; ntropos, que traz homenagens a vivos e mortos queridos do autor; e ngustos, sobre amores). O pseudônimo que escolheu, “Njilo”, é inspirado em Njila, uma das divindade regente da troca e da linguagem nas tradições bantas.

O livro é uma compilação de textos que o poeta fez ao longo dos últimos 15 anos, que foram “revisitados”. “’Nverso’ é, talvez, e a despeito do que o título possa sugerir à primeira vista, o inverso de um universo. Quero dizer: não o percebo como um todo acabado ou o um projeto pré-estabelecido, mas como uma montagem, um mapa de revisitar textos escritos em diferentes momentos”, conta.

Direito

Apesar da variedade de estilos, uma coincidência entre os finalistas foi o fato de dois deles serem formados em Direito. Graduado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Ferreira atua há nove anos como advogado em equipes de análise e acompanhamento de pedidos de financiamento a projetos de desenvolvimento socioeconômico, primeiro na área cultural e depois na ambiental. Atualmente, divide esse trabalho com o de editor associado da revista de literatura Philos.

Ferreira avalia que o direito não tem relação com o que escreve, mas a atuação como advogado, sim. “Esse trabalho me permitiu conhecer lugares, realidades e pessoas que abriram novas percepções e possibilidades para minha poesia, que inclusive se refletem de forma bem visível no ‘Itinerário’”, diz.

Hoshino se formou em Direito pela UFPR, onde também fez mestrado e hoje é doutorando. Ele percebe uma relação íntima entre a área e a literatura, maior até do que o uso da palavra já indica. “Não estou sozinho ao pensar haver mais parentesco entre o direito e a literatura do que supõem a dogmática do primeiro e, não raro, o cânone da segunda”, analisa. “Ando com um ensaio de Robert Cover na cabeça, de modo que prefiro fazer minhas suas palavras: ‘Nenhum conjunto de instituições jurídicas ou normas existe em separado das narrações que o situam e lhe proporcionam significado. Para cada constituição existe um épico, todo decálogo possui uma escritura’. Assino embaixo”.

Edições

Para esta primeira edição do concurso literário, lançada em fevereiro, a Editora UFPR recebeu cerca de 200 inscrições, das quais 176 foram homologadas. Os livros foram avaliados pela comissão, composta por dez professores, pós-graduandos e servidores, sem que se soubessem os autores.

Além do diretor Rodrigo Gonçalves, fizeram parte da comissão julgadora Alan Santiago, Alexandre Nodari, Daniele Carneiro, Diamila Medeiros, Francisco Innocêncio, Gabriela Ribeiro, Guilherme Gontijo Flores, Hertz Wendel de Camargo e Luci Collin.

De acordo com Gonçalves, o concurso nasceu com a intenção de criar uma oportunidade de destaque para obras literárias e novos autores e autoras, que não é tão frequente. “A ideia é repetir todo ano”.