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UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARANÁ

Flávio Suplicy de Lacerda

Engenheiro e professor Flávio Suplicy de Lacerda

Engenheiro e professor Flávio Suplicy de Lacerda (Lapa, 1903-Curitiba, 1985)

Engenheiro de formação, entrou para o magistério superior pelas mãos de seu cunhado, David Carneiro, durante as décadas de 1930 e 1940. Iniciou sua carreira como engenheiro da Prefeitura Municipal de Curitiba, tendo servido no 5º Batalhão de Engenharia do Exército Brasileiro. Exerceu os cargos de Diretor da Rede de Viação Paraná -Santa Catarina, engenheiro-fiscal da Estrada de Ferro Monte Alegre e da Companhia de Força e Luz do Paraná. Doutor em Ciências Físicas e Matemáticas pela Universidade do Paraná, foi o primeiro presidente do CREA-PR.

Assumiu a Vice-Reitoria da UFPR em 1948 e no ano seguinte, devido ao falecimento do reitor João Ribeiro de Macedo Filho, tornou-se o terceiro reitor da instituição. Foi eleito reitor pela primeira vez em 1950. Foi reeleito em 1952 pelo Conselho Universitário para um novo mandato de 3 anos, tendo sido reconduzido a este cargo pelo mesmo Conselho Universitário nos anos de 1955, 1958 e 1961 até 1964, foi neste período que ocorreu a federalização da antiga Universidade do Paraná. A federalização (Lei 1.254/50) permitiu um aumento significativo de recursos para a Universidade que, entre outras medidas empreendeu a reforma e ampliação do prédio histórico e a construção dos conjuntos arquitetônicos da Reitoria, da Biblioteca Central, DCE e Casa da Estudante Universitária, do Hospital de Clínicas e do Centro Politécnico. Em 1958 foi homenageado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras pela construção de sua sede através da inauguração de seu busto em bronze, obra do artista plástico paulistano Arlindo Castellani de Carli, implantada neste mesmo local onde hoje se encontra.

Durante o início da Ditadura Militar em 1964 aceitou o convite do Marechal Humberto Castello Branco para assumir o Ministério da Educação, exercendo o cargo até 1966, sendo responsável pela Lei 4.464/64 que proibiu as atividades políticas (além de outras restrições) aos órgãos de representação estudantil. Ao se desligar do Ministério, reassumiu entre 1967 e 1971 as funções de Reitor da UFPR. Na sua gestão como ministro de Educação foram formalizados diversos acordos de cooperação com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), responsável pela tentativa de construção de uma formação técnica e profissionalizante no Brasil.

A Reforma Universitária de 1968 (Lei 5.540/68) implementou, entre outras medidas: o fim do sistema de cátedras e do regime de créditos; a departamentalização da estrutura universitária e a criação dos vestibulares classificatórios; além da tentativa de cobrar anuidades dos estudantes. Em resposta à política de cobrança de taxas na UFPR os estudantes protestaram e realizaram a greve geral de 14.05.1968, quando os três prédios do conjunto da Reitoria foram tomados pelos alunos. Durante os protestos o seu busto foi arrancado e desfigurado, tendo seu nariz cerrado e a estátua arrastada pela rua XV de Novembro. O impasse resultou num acordo entre os estudantes que ocupavam a Reitoria da UFPR e as autoridades universitárias mediadas pelo governo estadual, a Polícia Militar e o Exército, resultando na retirada das forças policiais de todas as unidades da Universidade e a suspensão do concurso de vestibular nos termos em que estava sendo feito.

A estátua com o busto do reitor Flávio Suplicy de Lacerda muito frequentemente tem atraído atos de “descomemoração” (uma das formas possíveis de reapropriação, ressignificação e reinterpretação do patrimônio histórico por diferentes gerações) por meio de pichações e escritos de rejeição à persona representada. A exemplo dos fatos que culminaram, nas “descomemorações” dos 50 anos do golpe militar em 01.04.2014, com a retirada do busto por estudantes e organizações sociais, arrastando-o novamente pelas ruas da capital.

Após amplo e acirrado debate, o busto foi reconstituído e recolocado em seu local original por decisão do Conselho Universitário (Resolução 07/17-COUN, de 25.05.2017), como documento histórico e artístico que de fato ele é. Independente dos juízos de valor sobre a persona representada, este ato demonstra a preocupação da UFPR e da sua comunidade acadêmica em preservar sua história a partir do entendimento de que um monumento histórico consiste num evento circunscrito ao seu tempo e espaço. Tal medida, é preciso registrar aqui, não expressa um ato de memória desinteressada ou acrítica. Muito pelo contrário, ele respeita esta relação peculiar com o passado, sendo passível de reapropriações e releituras. Por esses motivos, o busto preservou as marcas das manifestações passadas e retornou ao seu lugar como signo da liberdade de expressão e de tolerância nas relações humanas no ambiente acadêmico da UFPR.