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FEDERAL DO PARANÁ

Engenharia Cartográfica monitora barragem de Salto Caxias

No ano de 1970, na Índia, vários tremores vinham sendo registrados nas vizinhanças do lago artificial da barragem de Koiana. Até que depois de alguns meses, em dezembro, ocorreu uma tragédia: um grande terremoto matou 150 pessoas e deixou mais de 2 mil feridos. Foi um dos acidentes mais graves já registrados, relacionado à estrutura de uma barragem que não suportou o peso da água e os constantes ajustes do muro de concreto às mudanças de temperatura.

Em todo o mundo são vários os registros de incidentes com muros de barragens. E é por esse motivo que o monitoramento desse tipo de estrutura recebe cada vez mais atenção. No Paraná, o curso de Engenharia Cartográfica da Universidade Federal vem acompanhando desde 2003 a situação do muro da barragem de Salto Caxias, no Município de Capitão Leônidas Marques, na região oeste. O projeto é desenvolvido em parceria com a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, COPEL – Companhia Paranaense de Energia Elétrica e LACTEC – Lboratório de Tecnologia para o Desenvolvimento Tecnológico e já resultou na defesa de duas dissertações de Mestrado. “Com a instrumentação geodésica, o que fazemos é desenvolver metodologias para monitorar o muro da barragem”, explica o professor Pedro Faggion, coordenador do trabalho. “Fazemos não apenas o monitoramento externo, como também o das galerias de inspeção.”

Com 64 metros de altura, 1.083 metros de comprimento e um reservatório de mais de 140 quilômetros quadrados, a barragem de Salto Caxias tem capacidade de 1240 Megawatts de potência, aparecendo como uma das maiores da América Latina e a oitava no mundo em CCR – Concreto Compactado a Rolo.

“Com o monitoramento, o que nós procuramos determinar são os pontos de interesse nas diferentes variações sazonais”, esclarece Faggion. “Em agosto, quando estamos no pico do inverno, o concreto fica mais contraído e em março, pico do verão, mais expandido, causando movimentações em toda a estrutura do muro. É preciso monitorar se elas estão dentro da normalidade e, caso elas não estejam, informar os técnicos da segurança para que medidas preventivas possam ser tomadas a tempo.”

A cada seis meses, os alunos de Graduação e Mestrado da Engenharia Cartográfica viajam até a barragem para a realização dos levantamentos. Todos os recursos para o desenvolvimento do trabalho são oriundos da ANEEL. Desde 2003 já foram criados equipamentos e acessórios específicos para o monitoramento. “São atribuições específicas do engenheiro cartógrafo”, conclui o professor.

Profissão tem mercado de trabalho cada vez mais abrangente

Qualquer projeto de Engenharia – seja ele um Plano Diretor de uma cidade ou até uma rede de saneamento – necessita de mapas de precisão. Mapas esses feitos por engenheiros cartógrafos. Quando o Brasil foi descoberto, esses profissionais já faziam os mapas do caminho. A cartografia sempre foi estratégica durante os descobrimentos. Quem a dominava tinha o controle geopolítico. Muito tempo depois, por uma questão de segurança durante o Regime Militar, eram eles, os militares, os responsáveis pelas políticas cartográficas nacionais. Cartografia era segurança nacional. Somente a partir dos anos 80 é que a profissão começou a se popularizar.

“O Brasil tem um déficit de mapas porque nunca se investiu com seriedade na cultura cartográfica”, comenta o coordenador do curso da UFPR Alzir Felipe. “No exterior, os mapas fazem parte de um banco de dados que serve como base na elaboração de qualquer tipo de projeto de Engenharia. Aqui, há mapas tão desatualizados que não servem como fonte de informação para um planejamento eficaz. Não existe desenvolvimento sem mapas.”

Situação que aos poucos deve mudar por causa de duas novas leis aprovadas nos últimos dois anos. A primeira, do INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária que obriga o georreferenciamento de todas as propriedades rurais para evitar o registro de escrituras falsas, os chamados “grilos”. E a segunda, o Estatuto das Cidades que prevê planos diretores para cidades acima de 20 mil habitantes, o que torna necessários mapas de cadastro urbano para determinação de questões como o uso do solo, zoneamento e estipulação de valores de IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano.

“Muitas prefeituras não têm mapas e acabam entrando num caos administrativo. O mapa cadastral é fonte de informação para o planejamento. Em Curitiba, por exemplo, o geoprocessamento é usado para programas de segurança. São mapas que permitem à polícia chegar mais rápido aos locais onde é chamada. Mas pelo menos 80% das cidades brasileiras têm sérios problemas de cadastro, o que abre um campo imenso de trabalho para o engenheiro cartógrafo. municípios como o de Ponta Grossa, Guarapuava, Araucária, Joinvile, São Paulo, etc., já estão colocando em seus concursos a vaga para esse profissional”, diz Felipe.

Outro exemplo da importância dos mapas? Muito antes da chegada do Katrina, os Estados Unidos já sabiam exatamente por onde ele iria passar, podendo ter tomado decisões antecipadas. Nova Iorque fez um mapa do crime no final dos anos 80 e conseguiu reduzir os índices de violência.

As aplicações são inúmeras. Um outro exemplo bem próximo é o do monitoramento da erosão marinha no Município de Matinhos e na Ilha do Mel, realizado pelos alunos de graduação com o uso de técnicas de GPS e geoprocessamento.

Experiência internacional – O curso de Engenharia Cartográfica da UFPR possui três convênios com o exterior. O Unibral com a Alemanha, o Brafitec com a França e outro com a Universidade de Santa Fé na Argentina. Selecionados, os alunos passam um semestre naqueles países trocando experiências.

“São editais abertos pela CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior. As universidades de todo o País fazem seus projetos para concorrer. A UFPR ganhou para 2004 e 2005 o Brafitec que pode ser renovado”, esclarece Alzir Felipe. “Agora também estamos negociando convênios com a Universidade de Vigo na Espanha.”

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Aluno faz monitoramento da parede da barragem
Foto: Arquivo Engenharia Cartográfica

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Fonte: Vivian de Albuquerque