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CEM cogita 4 hipóteses para morte de sardinhas no litoral

Pesquisadores do Centro de Estudos do Mar (CEM) da UFPR divulgaram no começo da noite desta quarta-feira (5) uma primeira nota técnica a respeito dos peixes encontrados mortos na última semana de 2010 nas baías de Paranaguá e Antonina, no litoral do Paraná.

Conforme o documento, 99% dos peixes mortos são da espécie Cetengraulis edentulus (Engraulidae), conhecida como sardinha-xingó, manjubão ou manjuvão.

O CEM cogita quatro hipóteses para o caso: 1) alguma doença; 2) toxinas de microalgas; 3) efeito de despejo químico; e 4) um possível descarte pesqueiro.

Os pesquisadores descartam como causas da morte a alteração de salinidade ou da temperatura, uma vez que a sardinha-xingó tolera uma ampla variação de ambos os parâmetros.

As primeiras análises não revelaram sinais indicativos de patologia. No entanto, o grau de decomposição dos peixes coletados não permitiu análises mais detalhadas. Novas análises, inclusive de animais vivos, ainda estão sendo feitas.

Amostras de água coletadas nesta quarta-feira em diferentes pontos da baía de Paranaguá revelaram a presença de duas espécies de microalgas potencialmente tóxicas, dos gêneros Dinophysis e Prorocentrum, em concentrações relativamente elevadas.

Algumas espécies de microalgas produzem substâncias tóxicas que podem levar a eventos de mortalidade massiva de peixes, moluscos e outros organismos marinhos.

O CEM investiga ainda a possibilidade de uma contaminação por vazamento de amônia. A quarta e última hipótese, relativa a um eventual descarte pesqueiro, seria amparada, entre outros motivos, pelo fato de a sardinha-xingó ser uma espécie de baixo interesse comercial.

A nota do CEM observa ainda que a espécie não é boa indicadora do provável local de origem do fenômeno, por ocorrer em grandes cardumes, tanto na costa, a distâncias de até 15 km além da zona de arrebentação, quanto dentro do estuário (manguezais e gamboas), inclusive subindo os rios.

Cinco laboratórios da UFPR estão envolvidos no trabalho. Segundo a bióloga Camila Domit, responsável pelo Laboratório de Ecologia e Conservação, uma nova nota técnica deve ser divulgada na próxima segunda-feira (10).

Entre os dias 31 de dezembro e 4 de janeiro, dois botos e cinco tartarugas marinhas também foram encontrados mortos na região. ‘Ao contrário do que a imprensa divulgou, a causa mortis destes animais não pode ser conclusivamente relacionada ao evento de mortandade dos peixes’, adverte a nota emitida pelo CEM.

A seguir, a íntegra da nota técnica do Centro de Estudos do Mar.

NOTA TÉCNICA – 5/1/2011

Entre os exemplares de peixes encontrados mortos no interior da Baía de Antonina e Paranaguá, 99% foram identificados como pertencentes à espécie Cetengraulis edentulus (Engraulidae), conhecida como sardinha-xingó, manjubão ou manjuvão (material identificado pelo Dr. Marco Fábio Maia Corrêa). A espécie não é uma boa indicadora do provável local de origem do impacto, pois ocorre em grandes cardumes, tanto na costa (até 15 km além da zona de arrebentação), quanto dentro do estuário (manguezais e gamboas), inclusive subindo os rios. Causas como alteração de salinidade e temperatura podem ser eliminadas já que estes peixes toleram uma ampla variação destes parâmetros. A espécie está bem adaptada a diferentes ambientes, no entanto não pode ser descartada a possibilidade de doenças, presença de toxinas naturais na água, efeito de despejo químico, além de um possível descarte de origem pesqueira.

A equipe do Centro de Estudos do Mar (CEM/UFPR) foi contatada no dia 03 de Janeiro de 2011, três dias após os primeiros registros de mortalidade. As primeiras amostragens foram realizadas entre os dias 04 e 05 de Janeiro de 2011 com apoio da Polícia Ambiental do Paraná. Até o momento, o grupo multidisciplinar do CEM está trabalhando com quatro possíveis hipóteses.

Hipótese 1. Doenças
A análise visual (macroscópica), associada à necropsia de exemplares de sardinha-xingó e bagres (Cathorops spixii), não revelou sinais indicativos de patologia. No entanto, o grau de decomposição dos peixes coletados não permitiu análises mais detalhadas. Estudos adicionais serão realizados nos próximos dias a partir de novos exemplares vivos, para obtenção de uma resposta definitiva quanto a uma possível enfermidade.
As análises estão sendo realizadas pela Dra. Luciene Lima, especialista em patologia de peixes, com a colaboração de colegas do departamento de Zoologia/UFPR.

Hipótese 2. Toxinas de microalgas
Microalgas são organismos microscópicos que servem de alimento a uma grande variedade de seres marinhos. Entretanto, algumas espécies podem produzir substâncias tóxicas e causar outros tipos de efeitos deletérios que levam a eventos de mortalidade massiva de peixes, moluscos bivalves e outros organismos. A análise de amostras de água coletadas em diferentes pontos da Baía de Paranaguá no dia 05/01/2011 revelou a presença de duas espécies de microalgas potencialmente tóxicas dos gêneros Dinophysis e Prorocentrum em concentrações relativamente elevadas. Como a sardinha-xingó é um peixe pelágico e filtrador, a hipótese de que tenham acumulado grandes concentrações de toxina e que esta eventualmente seja a causa do evento, não pode ser descartada. Análises adicionais, a serem realizadas em Itajaí/SC nos próximos dias, investigarão a presença de toxinas nos animais encontrados mortos e em outros organismos filtradores da região.
As análises estão sendo realizadas pelo Dr. Luiz Mafra Jr., responsável pelo Laboratório de Microalgas do CEM/UFPR.

Hipóteses 3. Química
Em relação a esta hipótese, levantada pelo IBAMA e IAP, a equipe do CEM está realizando análises de componentes nitrogenados na água, para investigação da possibilidade de uma contaminação por vazamento de amônia.
As análises estão sendo realizadas pela Dra. Eunice da Costa Machado, responsável pelo Laboratório de Biogeoquímica Marinha do CEM/UFPR.

Hipótese 4 Descarte pesqueiro
Esta possível causa foi levantada pela equipe do IBAMA, IAP e Polícia Ambiental. A equipe do CEM consultou o CEPSul (Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Sudeste e Sul) que relatou ser o descarte uma prática pesqueira comum, principalmente tratando-se da sardinha-xingó que é uma espécie de baixo interesse comercial. As equipes do CEPSul, IBAMA, IAP e Polícia Ambiental do Paraná continuam buscando novas informações.

Outras considerações
Em complemento às análises, a equipe do CEM vem realizando o acompanhamento de outros grupos de animais, tais como mamíferos, aves e tartarugas marinhas. Dois botos e cinco tartarugas marinhas foram encontrados mortos no período entre 31 de dezembro e 04 de Janeiro. Ao contrário do que a imprensa divulgou, a causa mortis destes animais não pode ser conclusivamente relacionada ao evento de mortandade dos peixes.

As análises estão sendo realizadas pelo Dra. Camila Domit, responsável pelo Laboratório de Ecologia e Conservação do CEM/UFPR.

Laboratórios do Centro de Estudos do Mar/UFPR envolvidos nas análises:
Laboratório de Ictiopatologia

Laboratório de Microalgas

Laboratório de Ictiologia

Laboratório Ecologia e Conservação

Laboratório de Biogeoquímica Marinha

Foto(s) relacionada(s):


Sede do Centro de Estudos do Mar, em Pontal do Paraná
Foto: Arquivo UFPR

Fonte: Fernando César Oliveira