Logo UFPR

UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARANÁ

50 anos do Maio de 68 e insurreições estudantis são tema do ciclo “UFPR Pensando o Brasil”

Os 50 anos do Maio de 68 e as insurreições estudantis foram o tema da edição do ciclo de conversas “UFPR Pensando o Brasil” desta terça-feira (26/6) no campus Botânico. Os convidados para comentar o assunto foram a professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Margareth Rago, a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Angélica Muller, e o professor da UFPR André Duarte. O evento foi transmitido pela TV UFPR e está disponível no canal do Youtube da emissora.

O evento contou ainda com a participação do reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, que fez uma fala inicial, e a apresentação do tema pela pedagoga e doutoranda pela UFPR Carolina Langnor.

O debate foi o sétimo do ciclo Pensando o Brasil, que desde o ano passado vem colocando em pauta temas importantes da pauta nacional. Fotos: Leonardo Bettinelli

A primeira intervenção foi da professora Margareth Rago, que viveu intensamente as movimentações de 68 no Brasil. Pontuando as diferenças entre as manifestações em cada localidade, especialmente no Brasil e na Europa propôs pensar aquelas movimentações a partir do conceito de “heterotopia” de Michel Foucault, que remete à transformações do espaço, contraposto à “utopia”, que muitas vezes é levantado para definir o espírito das mobilizações daquele ano, e que na visão do estudioso francês remeteria à apenas um consolo.

A professora lembrou ainda a emergência de novidades conceituais que marcariam a chegada de novos temas e formas de luta na arena política e social. Citou ainda o (anti)psiquiatra, romancista e dramaturgo Roberto Freire como um representante do espírito daquela época que propôs adicionar às dimensões do tempo e espaço a dimensão do “tesão” em sua obra “Sem tesão não há solução”.

Angélica Muller trouxe um pouco do contexto histórico dos atos e de sua amplitude geográfica. Frisou a mudança de paradigmas que foram introduzida por estas manifestações, contestando valores tradicionais e práticas preconceituosas como o machismo e a homofobia, presentes no interior da esquerda da época.

Para a professor;a o Maio de 68 abrange um período histórico muito amplo que marcou transformações desde o final da década de 50, citando a revolução cubana como um dos marcos, até finais dos anos 70, mas que se refletiriam ainda muito tempo depois como a consolidação dos movimentos feminista e LGBT a partir dos anos 2000. “Reduzir o 68 a seu ano é não reconhecer um processo que o antecede e o precede, esse tempo de 68, não pode ser reduzido ao calendário de 365, é preciso inscrevelo em uma cronologia maior” conclui.

André Duarte propôs uma reflexão filosófica sobre o período a partir do livro “A Brecha”, escrito no calor daqueles acontecimentos pelos autores Cornelius Castoriadis,‎ Claude Lefort e‎ Edgar Morin. A ideia de que um verdadeiro acontecimento político é necessariamente imprevisível e que nestes períodos abrem uma brecha histórica, por onde novas práticas e discursos que estavam interditados até então ganham visibilidade.

O professor fez um paralelo com as movimentações de Junho de 2013 e as ocupações secundaristas de 2016 no Brasil, que segundo ele seguem mais ou menos a mesma lógica da representação do Maio de 68, tendo estes dois acontecimentos da realidade ganhado rumos diferentes. Enquanto ambos iniciaram com reivindicações ligadas à ampliação do direito dos jovens, o ‘Junho’ acabou sendo de certa maneira sequestrado pela mídia que com sua insistência e poder teria levado a substituir essas pautas por uma crítica difusa à corrupção que seria a base para a emergência de movimentos conservadores como o MBL. Por outro lado as ocupações, mantiveram suas pautas e puderam ampliar seus círculos articulando-se em torno delas com outros atores políticos. Por fim finalizou indicando a necessidade de se combinar de maneira autônoma as lutas horizontais como estas manifestações e a luta institucional, criticando a fragilidade de posições que buscam excluir algum destes polos.

Debate público

Na sua fala o reitor da UFPR destacou ainda a importância deste tipo de iniciativa, no atual momento do país. “Quando questões candentes, de vários matizes, que afetam a vida das pessoas de uma maneira tão radical, estão sendo tratadas com uma superficialidade que assombra é o momento das universidades, especialmente as universidades públicas, que são protagonistas na produção de conhecimento, postular um lugar privilegiado para o debate público” completou Fonseca.

O reitor Ricardo Marcelo abriu o debate destacando a importância de as universidades contribuírem para romper com a superficialidade na discussão de temas candentes.

O ano que não acabou

O Maio de 68 foi uma série de mobilizações políticas que se estenderam pelo ano de 1968 e tiveram epicentro na França, tendo coincidido ou influenciado uma série de movimentações políticas com um caráter semelhante em vários países. Protagonizada pela juventude, especialmente universitária, estas mobilizações marcavam uma mudança de paradigma que viria a se afirmar nos anos posteriores com a diminuição da influência do protagonismo da classe trabalhadora, dos partidos comunistas e da União Soviética na mobilização política da esquerda, e ascensão de uma forma mais horizontal e menos institucionalizada. A emergência de novas pautas, como a etno-racial, as questões de gênero e do movimento LGBT, e ascensão de movimentos sociais também fazem parte do espírito de 68 que expressa não só uma busca por mudanças socioeconômicas mas a tentativa de questionar os modos de vida tradicionais criando novos parâmetros, especialmente no campo das relações amorosas e sexuais.

No Brasil o movimento foi marcado pela contestação à ditadura militar, coincidindo com o recrudescimento do regime que entraria em seus anos de maior violência e perseguição política. Dois fatos trágicos viriam a marcar este ano. Primeiro, o assassinato do estudante secundarista Edson Luís Lima Souto, no Rio de Janeiro, morto a queima roupa por um comandante da Polícia Militar daquele estado, os estudantes haviam se abrigado em um restaurante depois de terem sido dispersados de uma manifestação, onde foram novamente confrontados pela PM. O caso fez com que as mobilizações contra a ditadura se intensificassem no país. E o segundo, o decreto do Ato Institucional nº 5, que marcaria o início do período mais violento do regime militar instaurado em 1964 com a deposição do presidente João Goulart.

Sugestões

UFPR publica trabalhos em congresso espanhol sobre ordenamento territorial 
XI Congresso Internacional de Ordenación del Territorio aconteceu em outubro de 2023, com colaboração...
UFPR realiza intercâmbio de experiência sobre tratamento e digitalização de acervos 
A Universidade Federal do Paraná (UFPR), por meio do Departamento de Ciência e Gestão da Informação (Decigi),...
Filho de Gari e auxiliar de serviços gerais é aprovado em Medicina na UFPR
Filho de um gari e uma auxiliar de serviços gerais, Felipe Nunes é aluno do 3º ano do curso de Medicina...
UFPR alerta para golpe de perfil fake no Instagram
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) informa que um perfil falso está se passando pela conta oficial...