Após dois anos, o tradicional banho de lama dos aprovados no vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR) voltou a acontecer no Setor de Ciências Agrárias, nesta sexta-feira (13). Ao todo, a universidade recebe 4.410 novos estudantes em 124 cursos de graduação. Centenas de novos calouros escolheram a sujeira da lama e das tintas para comemorar a tão aguardada aprovação.
Dos mais de quatro mil aprovados, 2.476 (56,15%) vieram de escolas públicas. Mais da metade dos novos calouros possuem menos de 18 anos (58,65%). Além disso, 3.956 (89,71%) são residentes do estado do Paraná. No total, o Vestibular 2022/2023 teve 35.094 inscritos (6,2% mais que no vestibular anterior).
Mais de uma hora antes da lista com o nome dos calouros ser divulgada, muitos deles, com seus familiares e amigos, já aguardavam pelo tão esperado momento. O tempo estava incerto, em alguns momentos o sol tornava o ambiente muito quente, e em outros as nuvens carregadas despejavam a chuva sobre as cabeças ansiosas dos candidatos. Incerto também era o coração de muitos que ali estavam, sem saber se iriam chorar de alegria após ver o nome na lista ou de tristeza, ao perceberem a ausência dele no grande tapume dos aprovados.
Às 14h, a vice-reitora Graciela Bolzon de Muniz homologou o resultado do processo seletivo. Foi então que as comemorações tiveram início: gritos de alegria e de realização se misturavam, pós das mais diversas cores voavam pelos ares e abraços de parabéns marcaram os primeiros momentos do Banho de Lama.
O evento contou com as bandas universitárias para compor o ritmo de festa. Veteranos recepcionam os novos calouros com muita tinta, farinha e ovo, além de os guiarem até a piscina de lama, onde os recém-aprovados e seus familiares dividiam momentos de realização.
O reitor Ricardo Marcelo Fonseca deu as boas-vindas aos novos calouros da universidade: “Nós temos tradição, mas sabemos nos renovar com aquilo que há de melhor. Temos inclusão, diversidade, respeito e alegria”, disse.
Cinco anos de espera
Uma das mais novas calouras da universidade é a Vitória Sabrina Matias, de 22 anos. A jovem, estudante de escola pública, foi aprovada em Medicina após ter tentado por cinco anos o ingresso na instituição. Depois da longa espera, o tão aguardado sonho vai se tornar realidade: “Eu sempre sonhei em ser médica. Desde pequena, eu sempre quis ajudar as pessoas da melhor forma possível”, conta a recém-aprovada. A caloura também mandou uma mensagem para aqueles que tentarão o vestibular futuramente: “Nunca desistam. Depois que você passa, não importa quantos anos ficou estudando, nada mais importa. Não desista, porque uma hora vai dar certo”, disse a jovem.
Espaço de inclusão
No meio da multidão, calouros abraçam seus familiares e aqueles que estão ali para comemorar junto. Para muitos, o tão esperado mergulho na piscina de lama simboliza o início de uma nova jornada, repleta de responsabilidades e aprendizados. Alguns preferem comemorar longe da sujeira, mas sem deixar a alegria de lado. Esse é o caso do Victor Arthur Letnar, aprovado em Engenharia Ambiental. A mãe do jovem, Dariany Letnar, conta que o filho é autista e possui um tumor cerebral. Segundo ela, os médicos afirmavam que o filho teria dificuldades até mesmo no processo de alfabetização. Dariany diz que o ingresso do filho na instituição é motivo de comemoração, mas também de motivação: “A expectativa é que a história do Arthur sirva de exemplo para que muitas pessoas vejam que o autismo não é uma barreira. O que a gente precisa é conhecer o autista, saber os limites dele, mas para isso temos que trabalhar a inclusão”, conta a mãe.
Emoção que toma conta
Mesmo após o alívio de ver o nome na lista de aprovados, houve aqueles que continuaram nervosos. Como a Natalia Figura, de 21 anos, caloura do curso de Turismo, que precisou dar uma respirada antes de conversar com a nossa equipe. A jovem, vinda de escola pública, já sabe o que pretende fazer quando for formada: quer ser comissária de bordo: “Eu tô me sentindo incrível, tô muito emocionada”, relatou.
O primeiro da família
Gabriel Scheuneman, de 19 anos, foi mais um dos aprovados no curso de Medicina. Após a segunda tentativa, a tão aguardada aprovação finalmente veio. O calouro é o primeiro da família a cursar uma universidade e enxerga a realização como um meio de contribuir com a sociedade: “Desde criança tenho o sonho de realmente fazer a diferença na vida das pessoas. Acredito que posso agregar à sociedade e devolver um pouco daquilo que ela já me deu um dia”, disse.
Por Felipe Reis e Thiago Fedacz, sob supervisão de Juliana Pinheiro