Dois trabalhos desenvolvidos por estudantes do curso de Design de Produto da Universidade Federal do Paraná receberam o 4º Prêmio de Design Instituto Tomie Ohtake Leroy Merlin, de abrangência nacional. O projeto “Eu.Faço Parte” apresenta uma proposta de combate à pobreza menstrual e o “Toqtoq” é um material de alfabetização para inclusão de crianças cegas e com baixa visão. Ambos são originários de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) desenvolvidos na universidade.
Mais de 200 projetos brasileiros se inscreveram no prêmio. A UFPR teve três nomes entre os finalistas. Dois projetos da UFPR e um da USP receberam o prêmio. “Isso nos mostra a competência tanto do corpo docente quanto a qualidade técnica, profissional e humana das e dos estudantes egressos. O prêmio nos enche de orgulho e de vontade de seguir trabalhando mais e melhor para continuar formando profissionais com competência para atuar no mundo onde os problemas são cada vez mais complexos”, comemora a professora Gheysa Caroline Prado, orientadora do Eu.Faço Parte.
De acordo com a professora Elisa Strobel do Nascimento, que orientou o trabalho Toqtoq, o Instituto Tomie Ohtake é uma referência de peso, com um júri formado por pessoas de várias regiões do Brasil. “Para jovens designers, em especial, que iniciam a construção de seus portfolios, os prêmios abrem novas oportunidades de trabalho e parcerias”, avalia.
Eu. Faço Parte
O Eu. Faço Parte é um absorvente biodegradável criado para colaborar no combate à pobreza menstrual, termo usado para denominar a dificuldade de acesso aos produtos de higiene menstrual para populações marginalizadas e privadas de liberdade, por exemplo.
O projeto foi desenvolvido pela aluna Rafaella de Bonna Gonçalves, com orientação da professora Gheysa. “O prêmio recebido pelo projeto Eu. Faço parte é de grande importância, pois ajuda a dar ainda mais visibilidade para o tema da pobreza menstrual, que tem ganhado destaque e que inclusive foi alvo de discussão recentemente tanto no âmbito nacional como estadual, já que uma necessidade tão básica de pessoas que menstruam foi negligenciada por tanto tempo”, comemora a professora.
A ideia já recebeu um prêmio internacional. O produto está em fase de desenvolvimento de protótipo, com um pedido de patente em andamento e de registro do desenho industrial. Clique aqui para conhecer os detalhes.
Toqtoq
O Toqtoq é um material de auxílio à alfabetização desenvolvido pelas alunas Miriam Emi Makinodan Shirozaki e Laís Cristina Maran Toqtoq. A dupla constatou a falta de material didático para alfabetização de crianças cegas e com baixa visão. As alunas iniciaram o projeto e paralelamente realizaram estágios voluntários no Instituto Paranaense de Cegos (IPC) para entender o contexto da alfabetização em crianças com este tipo de deficiência. “A UFPR firmou um convênio para desenvolvimento técnico sem fins lucrativos com o IPC, que contribuiu com insights e a validação das soluções. O Laboratório de Prototipagem do Departamento de Design testou as possibilidades de prototipagem digital de peças em Braile dentro das normas ABNT. Por fim, Laís e Miriam decidiram deixar o projeto aberto com licença de Creative Commons, para que possa ser amplamente produzido por quem desejar”, relembra a professora.
A Laís teve a ideia de criar o produto ao observar a tia professora confeccionando por conta própria os materiais para ensinar as crianças. “Para nós, receber o prêmio e o reconhecimento, vindo de um Instituto com tamanha importância para o cenário de artes, design e arquitetura do brasil é uma grande honra e vem também como uma forma de validação de que estamos no caminho certo”, afirma Miriam.
As peças criadas pelas alunas proporcionam interação divertida entre crianças com e sem deficiência visual, possibilitando trocas entre elas. Em breve um conjunto Toqtoq será entregue ao IPC. “Há uma articulação inicial com a prefeitura de Curitiba para disponibilizar o ToqToq para a rede municipal de educação”, comemora a professora.
Design e sociedade
Para as professoras que orientaram os trabalhos, o designer deve imaginar alternativas para os problemas sociais. “As universidades instigam estas reflexões e as trazem para níveis mais maduros. Disciplinas canônicas nos currículos de Design são Ergonomia e Materiais, por exemplo, que tratam de empoderamento ao tornar acessível, oferecem repertório e ferramentas aos alunos e alunas”, defende a professora Elisa.
“O design tem o papel de dar formas tangíveis às ideias sobre quem somos e como devemos nos comportar, pois através de seus artefatos (produtos e serviços) é responsável por moldar de maneira significativa a experiência humana e seus valores emocionais e culturais. Neste sentido, uma formação profissional pautada em direcionar o olhar para como gostaríamos que o mundo fosse (mais inclusivo e sustentável) permite que as e os estudantes (e profissionais) se sintam encorajados a cumprir seu papel como cidadãos comprometidos com o coletivo”, explica Gheysa.
Prêmio de Design Instituto Tomie Ohtake Leroy Merlin
A cada edição o prêmio propõe um tema-desafio para os estudantes universitários. Na última edição os concorrentes trabalharam com o verbo acolher. O objetivo era desenvolver propostas que relacionassem o design com outras áreas do conhecimento, apresentando ideias inovadoras no cenário político, social, habitacional, entre outros.
Crédito da imagem de capa: Mariana Petrin.