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Pesquisador da UFPR alerta para momento de mudança social, mas também de perigos que podem custar a vida

Professor sênior e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento (PPGMAD), o sociólogo Dimas Floriani pode ser considerado, a partir dos seus estudos, um analista de vanguarda do que vivemos hoje. Amparado em referenciais teóricos que pensam as relações do homem com a natureza, ele sinaliza, retomando os gregos, que a crise é momento de criação, mas também de perigos que nos podem custar a vida. “E sem ela não há nada a fazer”, aponta.

A questão traz um conjunto de complexidades que não escapam aos argumentos do pesquisador. De acordo com ele, a forma como os modelos de organização social deixaram marcas na natureza, alterando condições de vida, pintou um quadro difícil de ser revertido, como o surgimento de um estilo de vida consumista e a crise climática registrada desde o século passado.

 

Coleta de amostras para realização de exames de identificação do novo coronavírus no grupo de brasileiros que estiveram em quarentena, na base aérea de Anápolis, Goiás, ainda no início da pandemia. Foto- Warley de Andrade/TV Brasil

 

“Os estilos de vida, a concentração urbana, questões relacionadas ao saneamento e à higiene, os hábitos alimentares. Todos esses fatores se conjugam naquilo que se chama de sociedade de risco”, explica. De acordo com ele, a medicina estuda os fatores biológicos e genéticos, mas há causas da doença que estão internalizadas nestes estilos de vida.

Para Floriani, esse é um momento em que o lado racional da humanidade pensa em questões práticas, mas sua necessidade de preservação da espécie mobiliza medidas de cooperação e solidariedade.


“No imediato não há luz possível que acenda qualquer esperança: é o completo aleatório, uma ameaça permanente sobre nós. Contudo, os seres humanos carregam a esperança que lhes restitui a capacidade de reagir frente ao caos”.


A reação se dá em diferentes frentes, como na busca por reconhecer no outro a necessidade de afeto, troca, apoio e a compaixão. Este mecanismo tenderia, na sua análise, a nos aproximar. “Quem tem um estilo de vida suntuoso também vai pagar o preço. Temos de refletir sobre esse modelo de desenvolvimento para repensar o papel de cada um de nós”.

O professor lembra da importância das ações deliberadas, organizadas, solidárias entre instituições do cuidado e da reprodução da vida em um contexto de pandemia. Destaca que fenômenos como estes não são uma novidade na história de humanidade e, nesse momento, evocam um cenário de guerra. Para ele, este é o momento de instituições econômicas, de segurança e de cuidado – como saúde, igrejas, escolas – ganharem vida, exercitando princípios de cooperação.

Ainda conforme Floriani, é importante visibilizar a importância da atividade de cada um. “Valorizar quem por muito tempo era invisível ou não valorizado, como os lixeiros, entregadores de alimentos, carteiro(a)s, enfermeiro(a)s, motoristas de ônibus, taxis, etc), os agricultores que nos garantem os alimentos e centenas de outras profissões mal remuneradas, mas que são vitais em momentos limites como os de agora”.

 

Valorização dos idosos e combate ao egoísmo

 

Idosos precisam ser valorizados, diz professor (Foto: Divulgação)

 

“Lidar e cuidar do outro é uma forma de cuidar de si próprio”, pondera Floriani. Para ele, são os valores morais que nos permitem buscar melhorar, reconhecer fraquezas e conexão com o outro. Ele destaca, por exemplo, a importância da revalorização de idosos, muitos deles esquecidos em casas de idosos ou mesmo no próprio lar.


“Nosso estilo de vida ocidental nos fez esquecer daqueles que nos deram a vida, nos cuidaram e nos amaram. São seres descartáveis, ‘improdutivos’ e estorvos. É o momento de auto reflexão pois todo(a)s vivo(a)s ou morremos cedo ou envelheceremos. Temos portanto, o mesmo destino”, reflete.


Segundo o pesquisador, a pandemia desnuda as vestes de como está construída a sociedade, baseada em iniquidades de políticas públicas e em desigualdades. “Temos milhares de desempregados e milhares de trabalhadores informais. Quem vai socorrê-los? É a hora da verdade, a sociedade está nua”.

O egoísmo das corporações voltadas para a defesa de seus próprios interesses também vem à tona, de acordo com Floriani. Ele ressalta que poucas centenas de pessoas possuem o monopólio majoritário da riqueza dos países e questiona o porquê de nunca se implementaram medidas de taxação sobre grandes fortunas, por exemplo. “Os mais gananciosos querem tirar agora recursos dos assalariados, porque dos subempregados foi-lhes negadas as possibilidades de auferirem renda e emprego”.

O professor comenta, ainda, que a crise refletida pela pandemia desnuda a própria natureza humana, assentada em uma cultura também distorcida.


“Não adianta apenas mobilizar valores morais de compaixão se não tivermos a capacidade de orientar de maneira radicalmente diferente tudo o que faz uma sociedade funcionar”.


Estas ferramentas seriam desde um sistema de produção que atenda às necessidades fundamentais de todos, passando por instituições de ensino e de saúde de portas abertas, por um sistema de direito que garanta a justiça e não apenas a aplicação da lei e por um Estado provedor, capaz de corrigir as principais distorções de distribuição de renda.

O pesquisador aponta também a urgência de uma “educação capaz de mostrar os erros de má formação e de estilos de vida danosos para o coletivo”, além da necessidade de se pensar coletivamente em “formas de convivência e usos da natureza que não nos envenenem, nos apestem o ar, as águas, as florestas”.

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