Pela primeira vez, refugiados e aprovados em Letras-Libras participam do banho de lama da UFPR

22 January, 2025
13:33
Por Luana Lopes
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UFPR

Na última sexta-feira (17), os mais de 4 mil aprovados no Vestibular 2025 da Universidade Federal do Paraná (UFPR) fizeram a festa no banho de lama. O evento já é tradicional, mas neste ano foi ainda mais especial: a celebração, pela primeira vez, contou também com os aprovados no curso de Letras Libras e com os migrantes e refugiados aprovados em processo específico. 

A participação dos dois grupos no banho de lama foi construída em conjunto com os responsáveis pelos processos seletivos e com a Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade (Proafe). De acordo com a pró-reitora Megg Rayara Gomes de Oliveira, a ideia era que estes grupos também passassem por esse “rito de passagem” e se sentissem parte da universidade. 

“É fundamental que esse ritual aconteça de uma forma muito calorosa, acolhedora e amorosa. É importante também para educar a universidade, que entenda a importância da presença dessas pessoas no seu corpo discente”, afirmou. 

“Agora, vamos nos sentir parte da sociedade”

O curso de Licenciatura Letras-Libras da UFPR, criado em 2015, é um dos poucos oferecidos em universidades públicas do Brasil. Anualmente, 30 vagas são ofertadas por meio de um edital específico, distinto do vestibular tradicional da instituição. Nos últimos anos, o número de calouros do curso tem aumentado significativamente: em 2022, foram 4 ingressantes; em 2023, 16; em 2024, 17; e, em 2025, 30 novos alunos foram aprovados.

Calouros de Letras – Libras Foto: Pedro Henrique de Carvalho Costa

O professor Daltro Junior, que é professor do curso, destacou a importância da participação no banho de lama para a visibilidade do curso e da Língua de Sinais. “Estamos aqui pela primeira vez no banho de lama. E isso é fundamental, porque quando o curso de Letras Libras se junta aos demais cursos, ele ganha visibilidade, e, principalmente, a Língua de Sinais também ganha espaço”, afirmou o docente.

O evento se mostrou ainda mais significativo para o acolhimento e inclusão dos calouros, especialmente para o público surdo. “Parece que fui abraçado. Agora sinto que não sou mais excluído, como pensava antes. Sou professor surdo, então imagine como um aluno surdo se sentia. Agora, vamos nos sentir parte da sociedade”, completou o professor Daltro, destacando a importância simbólica do momento.

A secretária do curso, Mariah Araújo, que esteve presente no evento, destaca que há algumas dificuldades dos surdos em completar o processo de ingresso. “Esse ano a gente fez um grupo e ficou o tempo todo avisando sobre os processos do vestibular até a matrícula, porque todos os anos os surdos não conseguem entregar todas as documentações, então para facilitar esse processo, fizemos também alguns ajustes na documentação”, completa. 

Momento histórico e representativo

Para os calouros, o banho de lama representa uma oportunidade única de se integrar à universidade e ao seu curso de forma mais ampla. “Só o fato de saber que somos a primeira turma de Letras Libras a participar desse evento já é extremamente gratificante. O mínimo que posso fazer é aproveitar ao máximo e representar nosso curso, levando a Libras para que as pessoas possam conhecer e entender o que é”, afirmou Daniel Custódio, um dos calouros do curso de Letras – Libras, natural de São Paulo.

Daniel revelou que sua escolha por Letras Libras teve uma motivação pessoal e afetiva: “Eu vinha de um momento em que precisava muito de alguém para conversar, e foi quando conheci o Nicolas, um amigo surdo. Ele não tinha muitos amigos, e eu não sabia que, ao me aproximar dele, estaria ouvindo pelos olhos, não pelos ouvidos. No final, encontrei não só um grande amigo, mas também minha profissão. Hoje sou intérprete de Libras e passei na UFPR”, contou emocionado.

Refugiados aprovados em 2024 participam da festa

A UFPR realiza desde 2015 processos seletivos específicos para migrantes humanitários, refugiados e apátridas que querem ingressar na universidade ou retomar um curso iniciado em outro país. Mas este ano foi o primeiro em que os aprovados participaram do banho de lama. 

Foram 59 aprovados no processo seletivo, que ocorreu de fevereiro a maio de 2024 – foram 47 na modalidade ingresso e 12 na modalidade reingresso. A maioria deles vem do Haiti e Venezuela, mas também há migrantes de países como Cuba e República Democrática do Congo. No segundo semestre do ano passado, os estudantes participaram do Programa de Formação Suplementar: Ciclo de Acolhimento Acadêmico para Estudantes Refugiad os (PFS-Refugiados), também conhecido como Semestre Zero, destinado a admitidos na UFPR na condição de refugiados. 

Refugiados aprovados na UFPR. Foto: arquivo pessoal

De acordo com a coordenadora da Cátedra Sérgio Vieira de Mello na UFPR, professora Elaine Schmitt, a ideia de integrar os refugiados ao banho de lama foi construída em conjunto com as pró-reitorias e o Núcleo de Concurso.  

 “Com a entrada dessa nova turma, que foi a maior desde os nossos primeiros editais, achamos que era importante integrá-los também nesse momento tão fundamental, que é a passagem e a festa da entrada da universidade”, afirmou. “A ideia era incluir todos, inclusive as famílias, então fizemos o incentivo para que eles viessem prestigiar e poder comemorar”. 

“Estamos todos alegres por estar nesta festa com os amigos”

Acompanhados da professora Elaine e da coordenadora da Coordenadoria de Políticas para Migrantes e para povos tradicionais e originários da Proafe, Nathielly Oliveira Santos, cerca de 25 aprovados marcaram presença na festa, trazendo suas famílias. Um deles foi o haitiano Ansyto Petit Frere, de 34 anos, que está há oito anos no Brasil. O novo calouro de Turismo da UFPR estava emocionado em participar do banho de lama. 

Ansyto, Schedlin e Fedlin antes de pular na lama. Foto: Luana Lopes/UFPR

“Foi sempre um sonho entrar na Federal, e hoje está começando. Isso tem uma grande importância na minha vida, uma coisa extraordinária, estou vivendo algo que eu nunca vivi antes. Um momento incomparável”, contou. “Eu não tenho palavras para agradecer as pessoas como o Brasil que acolheram nós como estrangeiros e que dão a possibilidade de entrar na faculdade”. –

Assim como Asynto, Schedlin Racine e Fedlin Senecharles são outros dois dos refugiados do Haiti aprovados na UFPR, nos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo, respectivamente. Eles estavam com a família e estavam felizes por poder comemorar em conjunto.  

 “Foi o momento que eu estava esperando. Quando chegou a oportunidade de fazer a matrícula foi bem corrido para conseguir colocar os documentos, mas graças a Deus deu certo”, disse. Fedlin , que está há oito anos no Brasil. “E fazer parte desse público aqui, para mim como estrangeiro, é muito especial”.  

“É uma alegria mesmo. Estamos todos alegres por estar nesta festa com os amigos. Daqui a alguns dias a gente nem vai se ver mais”, afirmou Schedlin, brincando sobre a “correria” da faculdade. 

Os amigos Virmar Barceló e Omarli Javier, da Venezuela, também fizeram parte da festa. Eles foram aprovados em Letras/Inglês e Medicina. 

“É uma felicidade muito grande, eu já tinha tentado várias vezes o vestibular em Medicina, é a minha quarta vez. Quarta e última!”, comemorou Javier. 

“A gente já sabia o resultado, mas estamos aqui com essa felicidade por ter passado”, disse Virmar.

O acolhimento a refugiados e aos surdos vai continuar no ano letivo. Megg Rayara explicou que a Proafe conta com quatro coordenadorias de atendimento e vai promover editais específicos de assistência, especialmente para os estudantes em maior situação de vulnerabilidade. 

 “A gente depende de uma universidade cultural, uma universidade livre de qualquer forma de preconceito e discriminação. Então vai ser esse movimento que a gente vai fazer ao longo do ano e de uma forma permanente” completa.

Por: Gabriel Maia e Luana Lopes

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